domingo, 19 de julho de 2020

Na Venda Nova de 1916



A foto é um recorte do jornal O Movimento, do dia 13 de fevereiro de 1916.

Mais que justa a reivindicação dos habitantes de Venda Nova, afinal já corria o ano de 1916 e não faltavam promessas que a Cidade Jardim seria também, a Cidade do Futuro. Remédios não faltavam, para todas as dores e sofrimentos. Desde o Elixir do Nogueira, considerado um grande depurativo do sangue e encontrado em todas as Pharmacias, o Remédio Vegetariano de Orhmann, que prometia milagres contra a tuberculose e as doenças pulmonares, o Mororo, outro depurativo do sangue, voltado, principalmente, para a cura de cancros venéreos, a Canhyra, contra as moléstias do figado e as doencas do aparelho digestivo, o Vegetalino, para os reumatismos, a Parentana, para os rins, o Phyllantus, para as cólicas uterinas, a Yerobina, contra acidez estomacal e os excessos de gases, além, de tonificar o intestino, o Yucaty, para a cura da gonorréia ao Elixir de Inhame Goulart, que prometia a cura das moléstias nos olhos, causadas pela sífilis. Muitos outros, certamente, sequer foram catalogados. Segundo o Jornal O Movimento, do dia 06 de fevereiro de 1916, uma jovem de Belo Horizonte teria sido curada pelo propagandeado Elixir de Inhame Goulart , como por um encanto. "Em Bello Horizonte, à rua Aymores, mora a menina Irene, curada de uma moléstia nos olhos. Irene foi tratada não só em Bello Horizonte como no Rio de Janeiro  e operada na Santa Casa desta última cidade sem o menor resultado. Segundo o pai, o incômodo começou a se manifestar há 6 anos mais ou menos com uma purgação e inflamação que lhe privava da vista e, desenganado, resolveu experimentar o Elixir de Inhame Goulart, vendo no fim de alguns dias, a moléstia desaparecer como por encanto e hoje frequenta o Collegio Santa Maria, em Bello Horizonte, completamente curada". Sobre o Elixir de Nogueira, o mesmo jornal, no mesmo dia, trouxe o seguinte  depoimento "Declaro que estando sofrendo há oito mezes de uma syphilis rebelde, tendo-me apparecido uma erupção rebelde por todo o corpo, rosto e mãos, usei de grande quantidade de remédios a conselho de diversos médicos, tudo em vão, nem sequer apresentava melhora. (após ler) diversas declarações sobre o Elixir de Nogueira, resolvi experimentá-lo, e só com dois vidros fiquei completamente são!"  Tudo isto era o que diziam os jornais daquele tempo. Resta, no entanto, saber se, de fato, foram assim, tão milagrosos tais medicamentos, como divulgava a imprensa e o mercado à época.  Seja lá como for, qualquer alívio da dor, será sempre melhor que remédio nenhum. De uma forma ou de outra, os que com estes elixires se remediaram, já não estão mais entre nós, para darem o seu testemunho. A reivindicação dos antigos moradores de Venda Nova já tem mais de cem anos. Felizmente, a medicina, de lá para cá, evoluiu de forma impressionante. Infelizmente, no entanto, os frutos e resultados desta evolução, no que diz respeito a exames, procedimentos e remédios, não são para todos. A maioria de nós, morre de enfermidades que o dinheiro, certamente, salvaria. Ainda há muito o que reivindicar. Por agora, mais de imediato,  já seria um bom sinal se, no mínimo, não nos negássemos a ouvir os conselhos e a sabedoria da ciência, usássemos máscaras, quando em público, e levássemos a sério a necessidade e urgência de algum distanciamento social em meio ao alastramento da pestilência. Ainda não temos a cura, nem remédios milagrosos. Pequenos gestos ou a ausência deles, podem significar a trágica escolha entre a vida ou a morte. Lamentável que ainda exista quem a isto resiste na Belo Horizonte de 2020.

Marcos Vinicius.

Nenhum comentário: