Só para escrever
Quantos de nós, não temos a vontade de escrever bem mais do que normalmente escrevemos? Certamente, o exercício da escrita sempre exerce certo fascínio, tanto entre aqueles que fazem da produção literária, algo contínuo, quanto entre aqueles, que nunca escrevem coisa alguma. Para os que escrevem habitualmente, o fascínio pela produção em si, para os analfabetos de todos os tipos, o fascínio pelo inatingível, pelo desejo eternamente postergado. A relação dos homens com a escrita é sempre uma relação de desafio. O desafio de descrever o até então indescritível. Imagine o processo de criação das palavras; foi um processo que se desenrolou por milhares de anos. Desde os primeiros sons articulados em prol de um sistema de comunicação, lá pelos idos da pré-história, até a escrita alfabética que se desenvolveu entre os povos antigos, passando pelo surgimento da imprensa, que tornou, nos tempos modernos, o gesto de escrever, algo quase universal, ao mundo novo, da tecnologia digital, o ato de escrever é sempre um desafio. Para os primeiros homens, uma carência praticamente absoluta de sinais gráficos, fazia das primeiras tentativas de denominação dos fenômenos do cotidiano, um exercício fundamentalmente divino. Para nós, os novos primitivos de um futuro ainda não desvendado, o turbilhão de palavras, símbolos, códigos, sinais, letras, grafias, programas, deixa às mãos, de quem se propõe a escrever qualquer coisa, sobre qualquer assunto, um universo de possibilidades, que intimida, a princípio, qualquer um, que se sente com uma pena, um lápis, ou diante de um teclado. Atualmente, a possibilidade de se publicar,de imediato, qualquer coisa que se escreve, proporciona uma outra dimensão ao ato de escrever. Enfim, porque é arriscado, temeroso, desafiante, fascinante o ato de escrever? O que levou os homens ao longo destes milhares de anos, escrever, escrever, escrever, criar arquivos, bibliotecas, pastas, armários, estantes, livros, panfletos, cadernos, jornais, revistas, poemas, contos, rezas, receitas, fórmulas, encantos, contos, narrativas, histórias? Das tabuinhas de argila, da Mesopotâmia, do papiro, das margens do Nilo, das guardadas bibliotecas medievais, à era do hipertexto, escreve-se, escreve-se, escreve-se. O ato de escrever, seja lá o que for, é um ato que mesmo quando científico, é também religioso. Escrever é ao mesmo tempo, querer revelar e revelar-se concomitantemente. É desvendar para ser desvendado, ou desvendar, desvendando-se. Não há quem ao escrever, não invoque um eu superior que imaginamos ter guardado dentro de nós mesmos. É uma experiência quase transcendental, na medida em que nos sentimos eternizados se imaginamos escrever aquilo que acreditamos ser necessário que seja escrito, ou nos afundamos no ridículo, ao perceber que fomos fatalmente traídos pelas nossas próprias palavras. Escrever é um pouco despir-se ao tentar vestir o mundo com seus trajes de palavras e nomes; pois ao denominar, conceituar, ou simplesmente rabiscar o papel, mostramo-nos ao mundo, e a nós mesmos. Por isto, o risco, por isto, o desafio e o fascínio. Escrever é o estado primitivo de um mundo que ainda não é poesia pronta, e é também, o estado divino, de poder recriar o mundo, por nossa conta, sobre uma folha de papel em branco. É o poder das palavras, escritas.
Quantos de nós, não temos a vontade de escrever bem mais do que normalmente escrevemos? Certamente, o exercício da escrita sempre exerce certo fascínio, tanto entre aqueles que fazem da produção literária, algo contínuo, quanto entre aqueles, que nunca escrevem coisa alguma. Para os que escrevem habitualmente, o fascínio pela produção em si, para os analfabetos de todos os tipos, o fascínio pelo inatingível, pelo desejo eternamente postergado. A relação dos homens com a escrita é sempre uma relação de desafio. O desafio de descrever o até então indescritível. Imagine o processo de criação das palavras; foi um processo que se desenrolou por milhares de anos. Desde os primeiros sons articulados em prol de um sistema de comunicação, lá pelos idos da pré-história, até a escrita alfabética que se desenvolveu entre os povos antigos, passando pelo surgimento da imprensa, que tornou, nos tempos modernos, o gesto de escrever, algo quase universal, ao mundo novo, da tecnologia digital, o ato de escrever é sempre um desafio. Para os primeiros homens, uma carência praticamente absoluta de sinais gráficos, fazia das primeiras tentativas de denominação dos fenômenos do cotidiano, um exercício fundamentalmente divino. Para nós, os novos primitivos de um futuro ainda não desvendado, o turbilhão de palavras, símbolos, códigos, sinais, letras, grafias, programas, deixa às mãos, de quem se propõe a escrever qualquer coisa, sobre qualquer assunto, um universo de possibilidades, que intimida, a princípio, qualquer um, que se sente com uma pena, um lápis, ou diante de um teclado. Atualmente, a possibilidade de se publicar,de imediato, qualquer coisa que se escreve, proporciona uma outra dimensão ao ato de escrever. Enfim, porque é arriscado, temeroso, desafiante, fascinante o ato de escrever? O que levou os homens ao longo destes milhares de anos, escrever, escrever, escrever, criar arquivos, bibliotecas, pastas, armários, estantes, livros, panfletos, cadernos, jornais, revistas, poemas, contos, rezas, receitas, fórmulas, encantos, contos, narrativas, histórias? Das tabuinhas de argila, da Mesopotâmia, do papiro, das margens do Nilo, das guardadas bibliotecas medievais, à era do hipertexto, escreve-se, escreve-se, escreve-se. O ato de escrever, seja lá o que for, é um ato que mesmo quando científico, é também religioso. Escrever é ao mesmo tempo, querer revelar e revelar-se concomitantemente. É desvendar para ser desvendado, ou desvendar, desvendando-se. Não há quem ao escrever, não invoque um eu superior que imaginamos ter guardado dentro de nós mesmos. É uma experiência quase transcendental, na medida em que nos sentimos eternizados se imaginamos escrever aquilo que acreditamos ser necessário que seja escrito, ou nos afundamos no ridículo, ao perceber que fomos fatalmente traídos pelas nossas próprias palavras. Escrever é um pouco despir-se ao tentar vestir o mundo com seus trajes de palavras e nomes; pois ao denominar, conceituar, ou simplesmente rabiscar o papel, mostramo-nos ao mundo, e a nós mesmos. Por isto, o risco, por isto, o desafio e o fascínio. Escrever é o estado primitivo de um mundo que ainda não é poesia pronta, e é também, o estado divino, de poder recriar o mundo, por nossa conta, sobre uma folha de papel em branco. É o poder das palavras, escritas.
Marcos Vinícius
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