MOCHILAS
Acabei de ler o livro “Mochilas”, de Delson Ribeiro de Andrade. O conhecido “Brother”. Fiquei encantado. Foi uma grande revelação, pois desconhecia completamente sua genialidade como escritor. E temos agora razões para admirá-lo, no mínimo, duplamente. Pelo talento que apresenta ao narrar sua história, e pela história em si, do qual o autor é o personagem principal. É uma bela história. Bela, intrigante e bem real. A maneira como Delson escreve é extremamente envolvente. O leitor se prende à leitura e, às vezes, fica difícil largar o livro. A vontade é de lê-lo em uma sentada. A leitura é leve e agradável. E a curiosidade que dá de saber o desfecho desta apaixonante aventura, torna a leitura emocionante. Foi a receita, a fórmula exata. Casamento perfeito. Um bom escritor e uma boa história. É tocante acompanhar a saga deste mochileiro em terras distantes. Este viajante brasileiro, mineiro, maluco, que resolveu desbravar o mundo, lá pelos idos da distante década de setenta. A aventura, em terra estrangeira e de natureza belo-horizontina, tem como cenário a Europa, mas se inicia e se encerra no tradicional Cantina do Lucas, no Edifício Maleta, no centro de Belo Horizonte. A história torna-se um retrato dos tempos em que os sonhos talvez ainda fossem possíveis. As utopias e o desejo supremo da liberdade. A história apesar de pessoal tem apelo universal, além de criar ainda, um elemento de identidade nacional. A história do Brother é também a história dos incontáveis degredados, expulsos, inadimitidos, excluídos, expatriados, sem-terras, nômades, andarilhos, que sempre povoaram o mundo.A busca eterna e inglória do paraíso, da Terra Prometida. É a história de incontáveis brasileiros, latino-americanos, africanos, que partem em busca do trabalho ou dos sonhos em terras distantes, do primeiro mundo. Quanto de “brother” não tem em cada um de nós, brasileiros? Quanto da alma brasileira não levou nosso brother pelo mundo afora? Algo, porém, na sua história, é particularmente, belo e emocionante. A possibilidade do encontro amistoso entre os povos e culturas. A possibilidade da tolerância em meio a diferença. É bonita a convivência poética dos jovens das mais variadas nacionalidades. É o sonho possível. Como diz o lema dos índios do pobre estado de Chiapas, no sul do México, descendentes dos maias: “Construir um mundo, onde caiba vários outros mundos”. É o princípio fundamental da tolerância e da convivência pacífica. Mas o sonho durou pouco, e nosso personagem-global-belohorizontino é deportado. Voltamos com o Brother, no Cristóforo Colombo. No rastro do seu romantismo. A história do Delson é ainda, extremamente moderna, contemporânea. Três mil brasileiros tiveram ingresso recusado ao chegar à Espanha em 2007. Diariamente, cerca de quinze brasileiros foram barrados no país em fevereiro deste ano. São as duras leis do Império do dinheiro e a lógica perversa de uma globalização excludente. O mundo ficou mais chato, com menos “brothers” e “hermanos”. E abrimos as cortinas do terceiro milênio, sob o estigma da intolerância levada ao seu mais alto grau e com a triste declaração, do segundo mais votado candidato ao governo da Espanha, Mariano Rajou, que embalou sua campanha com o lema: “Não cabemos todos” (os espanhóis e os imigrantes). Triste fim.
Marcos Vinícius.
Folha do Padre Eustáquio. n167. Maio/2008.
Acabei de ler o livro “Mochilas”, de Delson Ribeiro de Andrade. O conhecido “Brother”. Fiquei encantado. Foi uma grande revelação, pois desconhecia completamente sua genialidade como escritor. E temos agora razões para admirá-lo, no mínimo, duplamente. Pelo talento que apresenta ao narrar sua história, e pela história em si, do qual o autor é o personagem principal. É uma bela história. Bela, intrigante e bem real. A maneira como Delson escreve é extremamente envolvente. O leitor se prende à leitura e, às vezes, fica difícil largar o livro. A vontade é de lê-lo em uma sentada. A leitura é leve e agradável. E a curiosidade que dá de saber o desfecho desta apaixonante aventura, torna a leitura emocionante. Foi a receita, a fórmula exata. Casamento perfeito. Um bom escritor e uma boa história. É tocante acompanhar a saga deste mochileiro em terras distantes. Este viajante brasileiro, mineiro, maluco, que resolveu desbravar o mundo, lá pelos idos da distante década de setenta. A aventura, em terra estrangeira e de natureza belo-horizontina, tem como cenário a Europa, mas se inicia e se encerra no tradicional Cantina do Lucas, no Edifício Maleta, no centro de Belo Horizonte. A história torna-se um retrato dos tempos em que os sonhos talvez ainda fossem possíveis. As utopias e o desejo supremo da liberdade. A história apesar de pessoal tem apelo universal, além de criar ainda, um elemento de identidade nacional. A história do Brother é também a história dos incontáveis degredados, expulsos, inadimitidos, excluídos, expatriados, sem-terras, nômades, andarilhos, que sempre povoaram o mundo.A busca eterna e inglória do paraíso, da Terra Prometida. É a história de incontáveis brasileiros, latino-americanos, africanos, que partem em busca do trabalho ou dos sonhos em terras distantes, do primeiro mundo. Quanto de “brother” não tem em cada um de nós, brasileiros? Quanto da alma brasileira não levou nosso brother pelo mundo afora? Algo, porém, na sua história, é particularmente, belo e emocionante. A possibilidade do encontro amistoso entre os povos e culturas. A possibilidade da tolerância em meio a diferença. É bonita a convivência poética dos jovens das mais variadas nacionalidades. É o sonho possível. Como diz o lema dos índios do pobre estado de Chiapas, no sul do México, descendentes dos maias: “Construir um mundo, onde caiba vários outros mundos”. É o princípio fundamental da tolerância e da convivência pacífica. Mas o sonho durou pouco, e nosso personagem-global-belohorizontino é deportado. Voltamos com o Brother, no Cristóforo Colombo. No rastro do seu romantismo. A história do Delson é ainda, extremamente moderna, contemporânea. Três mil brasileiros tiveram ingresso recusado ao chegar à Espanha em 2007. Diariamente, cerca de quinze brasileiros foram barrados no país em fevereiro deste ano. São as duras leis do Império do dinheiro e a lógica perversa de uma globalização excludente. O mundo ficou mais chato, com menos “brothers” e “hermanos”. E abrimos as cortinas do terceiro milênio, sob o estigma da intolerância levada ao seu mais alto grau e com a triste declaração, do segundo mais votado candidato ao governo da Espanha, Mariano Rajou, que embalou sua campanha com o lema: “Não cabemos todos” (os espanhóis e os imigrantes). Triste fim.
Marcos Vinícius.
Folha do Padre Eustáquio. n167. Maio/2008.
2 comentários:
Eu tambem acabei de ler esse livro encantador "Mochilas", simplesmente de mais, parabéns Delson Ribeiro de Andrade, isso sim é saber viver...
Também li MOCHILAS e fiquei extremamente triste quando terminou. Queria mais!!!
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