Quem acredita que a civilização
contemporânea, capitalista, já produziu tudo que podia em horrores,
atrocidades, violências e absurdos, que fique atento ao significado histórico
do controle da produção de alimentos pelas grandes multinacionais do setor de
transgênicos. A agricultura, que modificou por completo a existência do homem
ainda na pré-história, é agora, ela própria, radicalmente modificada, para
atender às demandas dos mercados e das grandes corporações. Passados mais de
dez mil anos, o agricultor, vem agora, perdendo um dos mais genuínos direitos,
responsável, inclusive, pela perpetuação da vida, qual seja, armazenar as
sementes da colheita para o próximo plantio. Como se não bastasse arrancar do
homem a terra, arrancam-lhe também o acesso à semente. As plantas geneticamente
modificadas, ao contrário do que sempre se propagandeou, a cada dia tornam-se
dependentes de uma quantidade cada vez maior de venenos e agrotóxicos, dado o
aumento da resistência das pragas em relação a eles, tornando nossa alimentação
arriscada e perigosa. As empresas lucram em dobro, com a venda das sementes e
dos venenos. Se quisermos considerar ainda, uma história de mais longa duração,
podemos dizer que a constituição e formação da vida na forma como conhecemos,
com uma quase infinita variedade de espécies, é resultado de um processo de
milhões de anos, onde a seleção natural e demandas adaptativas deram as caras e
as cores do mundo em que vivemos. Alterar a estrutura genética de seres vivos e
criar novas espécies em laboratórios significa interromper um fluxo natural de
energia que vem se processando desde os tempos mais remotos. Não é possível
dimensionar quais seriam os desdobramentos desta prática no longo prazo. O que
já sabemos é que em lugares do mundo onde o cultivo de transgênicos já se
proliferou, o número de crianças com deformações e a incidência de doenças,
como o câncer, vem aumentando assustadoramente. Estará a vida, outra vez
imitando a arte, a ficção, quando, sabe-se lá, não teremos em um futuro bem
próximo, o capitalismo mais selvagem, revelando sua face Frankenstein?
Marcos Vinícius.
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