Neste ano, finalmente, pude ler
Crime e Castigo, de Dostoiévski. Esta obra monumental e intrigante, tem como
protagonista, Raskolnikov, um jovem estudante, que resolve assassinar uma velha
agiota, e assim o faz, de forma fria e calculada. Após o assassinato brutal,
Raskolnikov é assolado por um tormento tal que o adoece a ponto de, por fim,
confessar a sua culpa. Ainda que na conturbada mente de um assassino confesso,
o autor assoma uma dimensão ética à condição humana, onde o próprio assassino,
não vê alternativas possíveis, além do sofrimento, a prisão e o castigo.
Raskolnikov é uma metáfora as avessas do que se tornou uma parte do Brasil.
Quais foram as barreiras éticas demolidas para que agentes do crime organizado
transformem-se em símbolos de salvação nacional? Quais foram os limites que
tivemos que transgredir para que autodenominados cristãos, substituam a
dimensão do sagrado pela violência da pólvora? Onde perdemos a compaixão? O que
terá ocorrido pelo meio do caminho para que um pedaço da sociedade brasileira
eleja como mito, quem adota políticas genocidas, como recusar-se a imunizar o
país, deixando uma população inteira refém de um vírus demolidor, além de
desdenhar das centenas de milhares de mortes alheias? Lembra-se que as metas
iniciais eram uns trinta mil? A quantas andam as contabilidades dos genocidas
que nunca dormem? Onde foi que nos tornamos isto? Talvez, lá das brumas e
névoas da São Petersburgo do século XIX, Raskolnikov nos observe, atônito e assustado, de ver como
por aqui, fazemos da morte, espetáculo, redenção e glória, em uma terra sem
leis, onde o crime, sequer merece o castigo. E com indiferença, fria e mórbida,
não enxergamos os mortos.
Marcos Vinícius.
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