Não faz muito tempo, a palavra
todos meteu-se em encrencas. Se alguém se dirige ao público e diz, todos aqui
estão convidados ou todos os presentes deverão comparecer, logo aparecerá quem
dirá que uma fala destas, traz conotações carregadas de discriminação de
gênero, pois afinal, ali, estariam reunidos não apenas homens, mas também as
mulheres. A partir desta descoberta, creio que é uma descoberta deste século,
não são poucas as reuniões ou encontros em que agora ouvimos, todos e todas
estão convidados e convidadas ou todos e todas deverão usar trajes esportivos.
Não sou conhecedor das artes gramaticais, mas a primeira vista, ou aos
primeiros ouvidos, a impressão que tenho, é de ser algo desnecessário,
redundante, onde o discurso parece abrir-se já enfadonho e duvido mesmo que
alguém que preze pelas boas literaturas assinaria um texto com esta inovação.
Porém, se um dia me convencer que a nova prática poderá, de alguma forma, de
fato, resolver problemas de gênero, ponho-me de acordo. Ocorre que agora, mais
recentemente, a palavra todos meteu-se em encrencas ainda maiores. Como se já
não bastasse o enjoado todos e todas, há agora uma nova vanguarda de militantes
que resolveram que todos ou todas já não bastam, é necessário uma nova
variação, e eis que surgem as expressões todes e todxs, para abarcar todos os
gêneros possíveis, e só não sei ainda se a palavra todos ainda continuaria
valendo. Como miséria pouca é bobagem e nisto somos especialistas, vem agora o
gênio-mor-semianalfabeto, vereadore Carluxo, e apresenta na câmara municipal do
Rio de janeiro, um projeto de lei proibindo “terminantemente’ o uso destas
expressões inovadoras, para evitar “perversões e alterações maliciosas e
progressistas” no uso da Língua, podendo, inclusive, suspender os alvarás das
escolas que violarem a norma. Alguém deve ter soprado para o energúmeno, que
esta dinâmica da língua é resultado de alguma conspiração comunista e aí
resolve-se o problema com a ditadura da palavra, o engessamento e a
perseguição, os remédios mais apropriados para conterem as perversões destes
corrompidos que aprendem o português nas cartilhas impressas em Cuba, na
Venezuela, sabe-se lá, na China. Além dos males todos que dividimos, nunca
perdemos o hábito de criarmos outros tantos, afinal, filhos de um tempo onde
tudo já parece ter sido inventado e dito, é necessário então, criarmos outras
modalidades de chatices, pedantismos e autoritarismos. E neste aspecto, somos
vocacionados, não é a toa que uma figura destas, que imagina ser capaz de
conter a dinâmica viva da língua em um projeto de lei, sem pé nem cabeça, tenha
sido o segundo mais votado para a câmara da cidade do Rio de Janeiro.
Marcos Vinícius.
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