O pequeno mico saltou de uma
árvore para outra, da árvore para os ferros da grade, para outra árvore, e por
fim, atravessou a rua, equilibrando-se sobre um fio que conectava dois postes
elétricos, sem que fosse poupado um segundo sequer dos ataques de furiosos
sabiás que lhe deram fortes e, certamente, dolorosas bicadas. A perseguição foi
implacável, vários deles, por um bom tempo e longo percurso atacaram o pequeno
primata, sem qualquer trégua ou piedade. Não sei o que fez o macaquinho para
merecer tão contundente ataque e parece ter se safado, graças a uma inigualável
habilidade em deslocar-se entre árvores, postes e muros. Talvez tenha
importunado os pássaros marrons, de bicos finos e avantajados em seus ninhos,
alimentando-se de seus ovos, ou ameaçando filhotes, isto não é possível saber.
Hoje, tenho sabiás como vizinhos bem próximos, convivemos e trocamos olhares.
Possuem um ninho enorme, vistoso, do qual, devem orgulhar seus arquitetos,
sobre uma passagem por onde transito. Na maioria das vezes, quando me aproximo,
voam em debandada, noutras, porém, posicionam-se bem à minha frente, como, se
desta vez, enfim, fossem me impedir a passagem. Encaram-me fixamente, olhos bem
abertos, sem piscar, como a medir-me dos pés a cabeça, e permanecem
completamente imóveis, inertes, onde até as mais finas penas, resistem aos
movimentos do vento. Neste momento, ponho-me a imaginar quantos metros a menos
eu precisaria ter para, assim como o pequeno mico que fugia apavorado, ser,
também eu, alvo das tão incisivas bicadas. O jeito é torcer para que a altura,
peso e volume, de fato, inibam ações mais agressivas das aves guerreiras ou que
sejam elas, assim como eu, adeptas das políticas das boas vizinhanças.
Marcos Vinicius.
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