Nos últimos dias, em São Paulo,
no Brasil e nas vizinhanças, temos vivido momentos de euforia e entusiasmo
entre as forças democráticas, progressistas e de esquerda, apesar de tantos
absurdos e retrocessos. A vitória das forças populares no Chile que, em
plebiscito, disseram não a constituição de Pinochet, a expulsão dos golpistas
do governo da Bolívia, a derrota de Trump e a ascensão da candidatura de
Guilherme Boulos, em São Paulo, reacenderam esperanças, como há muito não se
via aqui entre nós. O governo Bolsonaro vai se enveredando por tortuosos
caminhos de contradições e embaraços, perversidades e psicopatias, a ponto de
tornar-se, a cada dia, mais difícil até mesmo para seus mais fiéis e fanáticos
seguidores, armar-se de qualquer defesa, dentro de qualquer razoabilidade. A
ameaça de guerra aos EUA, pois, é disso que se trata quando se fala em pólvora,
lança o bolsonarismo na esfera do ridículo, de forma ainda mais radical e com
repercussões globais, para muito além dos terraplanismos. Talvez Bolsonaro
tenha dado, com o episódio, um dos maiores tiros no pé, pois os gigantes de lá,
por mais que briguem entre si, não demora, as forças se ajeitam e o mercado da
política se acomoda, mas, geralmente, são intolerantes e implacáveis com a
traição e a insubordinação de seus capachos, do lado de fora. As perspectivas
para a famílicia já não são as melhores. Em São Paulo, a campanha de Boulos é
uma das mais bonitas do país, há nela um entusiasmo, um carisma, emoção,
interatividade, criatividade e engajamento, que parecem revitalizar as forças
de esquerda e o ânimo dos setores populares organizados. Pelas últimas
pesquisas, Boulos teria ultrapassado Russomano e, portanto, ocupa o segundo
lugar na disputa, credenciando-se ao segundo turno. São Paulo é o epicentro da
disputa política nacional, senão latino-americana, ao longo desta semana. A
vitória de Guilherme Boulos é uma amarga derrota para os tucanos paulistas, que
há anos fazem do Estado, seu ninho privilegiado, e uma pancada no bolsonarismo,
representado na patética figura de Celso Russomano. Situação dramática vive
também o PT. Seu candidato não decola e sequer foi convidado a participar do
debate promovido pela UOL e Folha de São Paulo, pois apenas os quatro primeiros
colocados compuseram a mesa. Incômodo ainda maior para o partido ocorrerá se
Boulos perder a vaga no segundo turno, pela falta dos votos que foram para o
candidato petista. Aí teremos uma disputa entre Bruno Covas e Celso Russomano.
Para Lula, talvez não haja cenário pior. Se saiu grande da apertada cela de
Curitiba, sairá menor, diante dos olhos do mundo, atentos à entusiasmada
campanha, de ampla mobilização popular, que se construiu para combater o
fascismo e a direita, a partir da cidade de São Paulo. A uma hora destas, o
ronco do motor da Kombi do Boulos está tirando o sono de muito gente. Porém, o
que se tira desta história toda, é o fato da gente ainda ter alguma esperança.
Marcos Vinícius.
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