sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Novembro

 




Nos últimos dias, em São Paulo, no Brasil e nas vizinhanças, temos vivido momentos de euforia e entusiasmo entre as forças democráticas, progressistas e de esquerda, apesar de tantos absurdos e retrocessos. A vitória das forças populares no Chile que, em plebiscito, disseram não a constituição de Pinochet, a expulsão dos golpistas do governo da Bolívia, a derrota de Trump e a ascensão da candidatura de Guilherme Boulos, em São Paulo, reacenderam esperanças, como há muito não se via aqui entre nós. O governo Bolsonaro vai se enveredando por tortuosos caminhos de contradições e embaraços, perversidades e psicopatias, a ponto de tornar-se, a cada dia, mais difícil até mesmo para seus mais fiéis e fanáticos seguidores, armar-se de qualquer defesa, dentro de qualquer razoabilidade. A ameaça de guerra aos EUA, pois, é disso que se trata quando se fala em pólvora, lança o bolsonarismo na esfera do ridículo, de forma ainda mais radical e com repercussões globais, para muito além dos terraplanismos. Talvez Bolsonaro tenha dado, com o episódio, um dos maiores tiros no pé, pois os gigantes de lá, por mais que briguem entre si, não demora, as forças se ajeitam e o mercado da política se acomoda, mas, geralmente, são intolerantes e implacáveis com a traição e a insubordinação de seus capachos, do lado de fora. As perspectivas para a famílicia já não são as melhores. Em São Paulo, a campanha de Boulos é uma das mais bonitas do país, há nela um entusiasmo, um carisma, emoção, interatividade, criatividade e engajamento, que parecem revitalizar as forças de esquerda e o ânimo dos setores populares organizados. Pelas últimas pesquisas, Boulos teria ultrapassado Russomano e, portanto, ocupa o segundo lugar na disputa, credenciando-se ao segundo turno. São Paulo é o epicentro da disputa política nacional, senão latino-americana, ao longo desta semana. A vitória de Guilherme Boulos é uma amarga derrota para os tucanos paulistas, que há anos fazem do Estado, seu ninho privilegiado, e uma pancada no bolsonarismo, representado na patética figura de Celso Russomano. Situação dramática vive também o PT. Seu candidato não decola e sequer foi convidado a participar do debate promovido pela UOL e Folha de São Paulo, pois apenas os quatro primeiros colocados compuseram a mesa. Incômodo ainda maior para o partido ocorrerá se Boulos perder a vaga no segundo turno, pela falta dos votos que foram para o candidato petista. Aí teremos uma disputa entre Bruno Covas e Celso Russomano. Para Lula, talvez não haja cenário pior. Se saiu grande da apertada cela de Curitiba, sairá menor, diante dos olhos do mundo, atentos à entusiasmada campanha, de ampla mobilização popular, que se construiu para combater o fascismo e a direita, a partir da cidade de São Paulo. A uma hora destas, o ronco do motor da Kombi do Boulos está tirando o sono de muito gente. Porém, o que se tira desta história toda, é o fato da gente ainda ter alguma esperança.

 

Marcos Vinícius.

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