terça-feira, 3 de maio de 2016

O Plano Temer, os patos e o mico.


Não foram poucos os que nos últimos meses ocuparam as ruas, vestidos com o uniforme da seleção brasileira, gritando palavras de ordem, pedindo o fim da corrupção, como talvez pouquíssimas vezes o tenham feito na vida, ou mesmo, quem sabe, vez alguma, encenando coreografias, soltando rojões e muita fumaça verde e amarela, como a participar de uma grande cruzada cívica, em nome da moralidade, dos bons costumes e da coisa pública. A maioria, sem qualquer histórico de participação na vida política do país, manifestava com euforia, enrolados em bandeiras, como se mais não fossem, que grandes torcidas organizadas, diante de algum campeonato de futebol, quem sabe, a própria Copa do Mundo; sopravam cornetas, vuvuzelas, empunhavam cartazes, faixas e os patos infláveis da FIESP em uma grande festa que, certamente, acreditavam que era sua. Não era pouca coisa, lotaram avenidas e praças, bateram panelas, acompanharam dia após dia, incansáveis, as narrativas da grande imprensa, da revista Veja, da Rede Globo e congêneres, pois afinal, a história, parecia lhes reservar a condição de sujeitos e grandes salvadores da pátria. O noticiário não dava trégua e como uma onda, era necessário, arrastar-se junto às multidões contra o grande mal que estava prestes a devorar o país. Pena que, muitos ali, fanatizados pela grande descarga de propaganda política despejada pelos grandes veículos de comunicação, pouca atenção certamente tenham dado, ao longo de suas vidas, aos livros de história ou qualquer outra coisa que a isto se assemelhe. Não estavam dispostos ao diálogo ou a reflexão, o julgamento já fora feito e o sucesso de sua empreitada era apenas uma questão de tempo. Empunharam o pato e ajudaram a chocar o ovo da serpente. Não era pouca coisa. A caça às bruxas atingiu seu ápice em um domingo mórbido, onde trezentos e sessenta e sete deputados, todos honestíssimos, comprometidos com a moral, a pátria, Deus e as famílias, as suas próprias, porque as demais que se explodam, respaldaram a voz das ruas, ou o contrário, as ruas respaldaram as vozes e os discursos em uma Câmara apodrecida pela injúria, pelas grandes negociatas e pelo escárnio. Um bom exercício com os números astronômicos, talvez seja imaginar quanto terá lucrado aqueles parlamentares, que até os últimos dias, tenham se colocado na condição de indecisos e por fim, aprovaram a abertura do processo. Os valores, muito provavelmente, ao contrário do espírito supostamente nacionalista dos manifestantes nas ruas, foram pagos em moeda estrangeira. A grande questão que agora se coloca, diante da euforia do final de festa e com a vitória consumada, é o que farão agora os manifestantes com suas bandeiras desfraldadas? O mínimo que, neste momento, se pode esperar é que desembrulhem, leiam e reflitam sobre o pacote pesado que é agora lançado sobre todas as cabeças, a “Ponte para o Futuro”, o chamado Plano Temer, um dos projetos mais liberais, imperialistas, classistas e anti-povo que se tem notícia em toda a História do Brasil, um plano que, certamente, não seria respaldado por eleição alguma, em qualquer parte do mundo ou em qualquer época ou ocasião. Um receituário a ser implementado, um verdadeiro caldeirão de maldades, a deixar de penas em pé, o mais bicudo dos tucanos, no novo governo, que agora se constitui. Não é pouca coisa. Uma radical flexibilização das leis trabalhistas, com terceirizações amplas, gerais e irrestritas, uma política generalizada de privatizações, onde o público deverá tornar-se privado, de forma crônica e sistêmica, redução drástica das políticas sociais, desinvestimento em saúde e educação, alteração das regras da aposentadoria, tornando-a quase impossível em vida e o fim de qualquer entrave à ação das grandes empresas poluidoras e devastadoras do meio ambiente. É o cenário que se desenha. Dizem que ao colocarmos o ovo da serpente ao encontro da luz, enxergamos o monstro que está por nascer, devido à transparência da casca, que hoje já começa a se romper. Não são raras as ocasiões em nossa história, menos por acaso, mais como fatalidade, talvez devido a uma insuperável tradição colonialista, em que somos chamados a pagar não apenas o pato, mas também, um grande mico.


Marcos Vinícius.

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