Há um episódio que não me sai da cabeça; não sei bem por que, de lá para cá, não me abandona o pensamento, relembro-o dia após dia. Acho que deve ser a necessidade de registrá-lo ou compartilhá-lo. Então aí vai. Era dia 18 de abril, segunda-feira, horário de almoço, o dia após a aprovação da abertura do processo de impeachment contra a presidenta Dilma, na Câmara dos Deputados. Descia a Av. Augusto de Lima em direção à Rua Goiás e angustiava-me ver todos os jornais de Minas, estampados nas bancas, em uníssono, comemorando o desfecho do processo, como se tratasse de uma grande vitória da nação e do povo brasileiro. As imagens e manchetes eram de júbilo e festa, em mais um bom exemplo do que não deveria ser o jornalismo. Parei em uma delas, desta vez, para copiar alguns documentos, e me surpreendi com a chegada eufórica de uma senhora, que postou-se bem à minha frente, escolheu um dos jornais mais populares e baratos, uma bagatela de vinte e cinco centavos e pediu à dona da banca que colocasse na sacola dez deles. Poxa, é a primeira vez na vida que vejo alguém comprando tantos exemplares de uma mesma edição. Fiquei imaginando o motivo da aquisição e não tive muitas dúvidas, certamente, trata-se de mais uma golpista, animadíssima com o espetáculo de horrores do dia anterior, e que resolveu comemorar, presenteando amigos, parentes, vizinhos ou colegas de trabalho, como se de um troféu se tratasse, ou simplesmente metida em alguma piada de mau gosto. A mulher da banca meteu os jornais na sacolinha, ela também animada com a venda rápida e a entregou para a compradora, que de imediato, comentou, Ainda bem que temos um jornal neste preço, pois caso contrário, não sei o que faria com minha cachorrinha. Ela urina pela casa inteira. E foi-se, satisfeita, com a euforia de quem havia resolvido um grande problema. Maravilha. Nunca havia imaginado a grande imprensa mineira voltada para causas tão nobres, no que esta expressão pode ter de melhor. Para não me esquecer.
Marcos Vinícius.
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