terça-feira, 24 de maio de 2016

Temer, 12 dias, e o realismo fantástico.



Já perdemos a conta de quantos ministros do desgoverno Temer estão implicados com a Operação Lava Jato, o que a bem da verdade, temos que admitir, não pega muito bem para um suposto governo de salvação nacional, não é? Afinal, deste jeito, fica parecendo que pretendem salvar mais a si próprios, que qualquer outra coisa, correto? Principalmente, tratando-se de uma elite política, que deixou muito claro, diante das telas de tevês, computadores e smartphones do mundo inteiro, na recente e fatídica sessão do dia 17 de Abril, que estão muito mais preocupados com suas próprias famílias, com a própria pele, do que com qualquer tipo de moralidade pública ou espírito patriótico. A extinção de ministérios como o da Cultura e o Das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, não apenas deixou o governo com uma fisionomia mais selvagem, como causou uma grande comoção nacional, onde um vasto setor da intelectualidade e artistas consagrados, através de manifestações permanentes e ocupações, levaram a um duro revés, os inábeis articuladores do golpe, ainda em curso. Tentando amenizar os estragos e tapar buracos, o titubeante presidente interino, criticado por não incluir mulheres em seu Ministério, sai à cata de celebridades para dar uma aparência mais feminina ao seu governo turrão, de bufões, dinossauros da política, oferecendo-lhes uma Pasta. A consultora de projetos culturais e coordenadora de curso de pós-graduação na FGV, Eliane Costa, a antropóloga Cláudia Leitão, Bruna Lombardi, Marília Gabriela, Daniela Mercury, uma a uma, recusaram a oferta. O nome de um militante e operador das causas da Igreja Universal, indicado para O Ministério da Ciência e Tecnologia, gerou perplexidade nos meios acadêmicos e científicos, e foi necessário recuar. Mas seja lá como for, a salada exótica de reacionarismos políticos, mantem-se na ordem do dia, alimentando o monstro tenebroso e capenga, que não apenas nos avilta a condição de cidadãos, retira direitos e destrói conquistas, como reforça nossa vocação colonial, e nos coloca no centro do mundo, não como referência de moralidade ou exemplo, mas alvo de piadas e chacotas. O novo Ministro da Segurança e Direitos Humanos, lembre-se, é necessário ser emblemático e simbólico é, ninguém menos que o secretário de segurança do governo Alckmin, reforçando nossa tradição de que as questões sociais são eternos casos de polícia e que a repressão deverá sempre preceder o diálogo. Assim como o General de Temer, o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, despreza o relatório da Comissão de Verdade e Justiça. O Ministro do Meio Ambiente é um Sarney, pobre Maranhão, pobre Brasil, e o Ministério da Educação, ocupado por um representante do DEM. Como nada é tão ruim que não possa tornar-se ainda pior, José Serra, ele mesmo, operador histórico do desmonte do patrimônio público brasileiro, articulador-chefe da denominada Privataria Tucana, serviçal dos grandes oligopólios estrangeiros e que, em revelação mais recente, via WikiLeaks, descobriu-se que prometeu o pré-sal aos norte-americanos, é nosso mais novo Ministro das Relações Exteriores. Praticamente, como entregar às raposas a chave do galinheiro. Tem mais. Mesmo que tudo isto não fizesse parte de um grande golpe, mesmo assim o seria, depois das certeiras e precisas revelações de quem ajudou a planejar tudo, o próprio ministro do Planejamento, em uma explosão de realismo fantástico. O editorial da Folha de São Paulo de hoje, 24/05, que aborda a queda de Jucá, tem como título “A Primeira crise”. Quanta benevolência.



Marcos Vinícius.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

A entrevista



O calor da manhã, associado a uma considerável dose de nervosismo e ansiedade, fazia com que filetes frios de suor corressem sob a camisa laranja que Ermínio escolhera para aquele dia. Apesar de não fazer qualquer esforço físico naquele momento, a longa espera e a expectativa do que poderia ocorrer na entrevista que aguardava, aumentava o volume do suor salgado, que escorria quase pelo corpo inteiro e, em pouco tempo, a camisa ficara praticamente ensopada. Procurava conter-se, respirava profundamente e esforçava-se para tranquilizar seu pensamento, o que parecia ser impossível, sabia que a tensão excessiva poderia fatalmente comprometer o sucesso da sessão a que esperava submeter-se. Apanha uma folha verde caída ao chão, observa-a detidamente, alisa a textura, acompanha com a ponta dos dedos suas estrias e veias, quebra-a, dobrando-a em várias partes, arrancando-lhe o resto de seiva, que ainda guardava consigo, antes que o sol e o vento a secassem de vez. Por fim, esfrega as folhas entre os dedos, esmagando-a freneticamente, tingindo as unhas de verde e de uma gosma esbranquiçada. Por várias vezes, repete o mesmo movimento, até que folha úmida, desfigurada, transforme-se completamente em pó. Quando encontrava-se já com as mãos vazias e levava os dedos próximos das narinas para verificar o perfume que a operação lhe deixara, é surpreendido pelo sentinela que lhe anuncia a vez. Senhor, a Diretora o aguarda. Ermínio levanta-se, apesar das pernas fazerem um movimento contrário, quase o puxam para o banco novamente, mas ele mantém-se firme, de pé, e entra na sala iluminada.

As mulheres que o atenderiam ajeitavam-se em seus lugares; a terceira a sentar-se, que ocuparia a lateral direita da mesa, ainda não havia terminado de bater o ponto no equipamento eletrônico, pendurado próximo da porta de entrada, quando Ermínio senta-se na cadeira que lhe fora reservada. Enquanto aguardava o início da conversa, observava seu entorno. A mulher assentada bem ao seu lado, à esquerda, terminava de ajeitar os papéis sobre a mesa e abria uma agenda, onde certamente realizaria algumas anotações. A outra, bem à sua frente, ocupando o centro da mesa, mantinha-se imóvel, a observá-lo, discretamente. Parecia estar plantada ali há séculos, petrificada, como se tivesse o corpo de concreto, tinha a pele muito branca e os olhos fundos e roxos. Há quantos séculos permanecia naquela posição? Sua imagem confundia-se com a paisagem do fundo e Ermínio temia que seus olhos encontrassem com os dela. A última a sentar-se, após enfiar o cartão do ponto no bolso dianteiro da calça, observa-o, até o momento que ele se vira para ela. Ela mantém uma ansiedade incontrolável, parece nunca encontrar uma posição adequada na cadeira que ocupa e esfrega-se nela o tempo todo. Dobra a perna para um lado, para o outro, ajeita os óculos na face, alisa o cabelos, enrola-o, faz e desfaz uma trança, joga-o para trás e depois, ajeita-os sobre os peitos fartos, comprimidos sob a blusa branca.

Não era a primeira entrevista de emprego a que o pobre se submetia na semana. Dado o colapso da economia mundial, mal sentava-se na cadeira e já ia a levantar-se em busca de outras salas, mesas, cadeiras, diretoras, gerentes, empresas. Perdera a conta de quantas portas havia batido nos últimos quinze dias, em busca de uma oportunidade de trabalho. Mas não tinha como render-se. Insistiria, até que conseguisse, não havia qualquer possibilidade de desistência, de jogar a toalha. A mulher, à sua esquerda, anuncia que, finalmente, a entrevista teria início. É feita a primeira pergunta. Talvez, em função das repetidas tentativas, das múltiplas entrevistas e infinitas recusas a que se submetera nos últimos tempos, a voz lhe sai pesada, como presa à garganta, sofrida, cansada, mas procura responder da melhor maneira que dá conta. Não prolonga as palavras, busca objetividade e precisão, mas elas, as palavras, mesmo curtas, revelam seu espírito, acabam por colocar sobre a mesa um pedaço considerável de si. Ermírio era uma alma humilde, apesar de vestir-se com roupas limpas e bem passadas, não carregava marcas, adornos e ostentações. As peças, por exemplo, eram de tecido barato, e lembravam as de produção doméstica, caseira. Suas mãos, grossas, indicavam muitos anos de trabalho pesado, os sulcos no rosto, as rugas precoces, lhe imprimiam uma idade mais avançada do que realmente possuía. É feita a segunda pergunta. Ele mantem o tom e pausadamente, responde, espremendo o pedaço de papel, que suas mãos, quase involuntariamente, capturaram sobre a mesa. Assim que conclui esta segunda resposta, as mulheres se entreolham e, com um gesto combinado, codificado, selam a sorte de Ermínio, ele não seria contratado.

Mesmo assim, mediante um pacto silencioso, combinaram entre elas, que a agonia do candidato se prolongaria. A expressão das três, a partir daí, seria outra. A da esquerda, mexe mais uma vez os papéis e começa a rabiscar garatujas nas páginas da agenda amarela que tinha sob as mãos, a do meio, mantinha-se petrificada, sólida, com o olhar duro e congelado, medindo os gestos e o desespero do homem, que suava rios, diante de si. A esta altura, o pobre fora tomado de uma sensação de pânico, as batidas cardíacas intensificavam-se, sem que soubesse por quê; a outra, a terceira, rebolava inquieta sobre a cadeira, que chegava a arrastar-se; o cabelo, talvez de tanto que o pegava e retorcia, tinha um aspecto oleoso e engordurado, mas ela, mesma ansiosa e agitada, parecia divertir-se. Fitavam Ermínio e entreolhavam-se. Depois de trabalharem há um bom tempo juntas, aprenderam a ler os olhares, os silêncios e os gestos umas das outras. Comunicavam-se sem que o entrevistado o percebesse. Uma sensação de fraqueza e desânimo percorre o corpo de Ermínio e um golpe de cansaço faz-se sentir em cada uma de suas veias e células e a pressão arterial parece cair. Mas não tinha o direito de esmorecer, não podia. Levanta a cabeça, raspa a garganta, ajeita o colarinho e procura fugir aos olhares das inquisidoras, aventurando-se a observar os detalhes do escritório. É uma repartição burocrática, lotada de papéis, manuais, estantes, armários e dois computadores. Na parede ao fundo, um quadro grande, traz o retrato de um homem de meia idade, uma gravata cafona, cabelos grisalhos, olhos inchados e bochechas gordas, que mais lhe recordava um sapo. Certamente é o chefe. Aos pés da gravura, havia uma inscrição com um nome e título, que aquela distância, não conseguia decifrar. Observando a rápida distração do entrevistado, a inquisidora à esquerda, aumenta e endurece o tom da voz e das perguntas.

Das questões de natureza profissional, já quase esgotadas, em uma entrevista que já se estendia além do previsto e desejável, iniciam uma devassa em sua vida pessoal, privada. Está desempregado há muito tempo? Como faz para viver nestas condições? Tem filhos? Garotos, garotas, um casal? Sua esposa, se é que possui uma, também está fora do mercado de trabalho? O senhor fuma ou bebe? Mora em casa própria? A família é numerosa? É desta cidade ou forasteiro? Sabe com quantos paus se faz uma canoa? Sabe resolver equações, domina programas de computador? Prefere carne de boi ou de porco? Café ou chá? A da esquerda apoiava-se sobre os cotovelos e aproximava-se de Ermírio, mostrava-se tranquila e, não fosse a gola puída, talvez aparentasse um estilo aristocrático; era a que mais interrogava. A do meio, estátua, gélida, incompreensível, fez algumas poucas perguntas sem que, incrivelmente, abrisse a boca. Permaneceria ali, plantada, por mais mil anos. A terceira, tagarela, não falava coisa com coisa, era a que apresentava as questões mais desconexas, não as mais embaraçosas. Seus pés e mãos contorciam-se em volta de si mesma. Quando não havia mais o que perguntar, viram-se para Ermírio, exaurido, e dão a sentença final, que já traziam consigo desde os primeiros minutos da sessão interminável, ainda na segunda pergunta. Infelizmente, Senhor Ermínio, para o perfil que apresenta, nosso quadro está lotado, concluiu. Aqui estão seus documentos, lhe desejamos uma boa sorte e, quem sabe em uma próxima ocasião. Ermínio, um pouco atordoado e confuso, levanta-se, agradece e, finalmente deixa o local. Ali, certamente, nunca mais voltaria.


Não se passaram dez minutos que o pobre havia se retirado e, com um pontapé na porta, que quase desaba, fazendo as três saltarem assustadas de seus assentos, entra bufando o chefe, o do retrato na parede. Ainda que, com a cara de sapo, como havia constatado Ermínio, fedia como um porco. O cheiro de cigarro e o odor impregnado de álcool alteravam sensivelmente o ambiente da sala. As três, subitamente, murcharam. O homem dá um soco na mesa da recepção, joga um maço de papéis no colo da mais inquieta, que treme descontroladamente, passa um lenço encardido sob a bochecha gorda e suada, abre os primeiros botões da camisa e esbraveja. Mas que diabos, quantas vezes preciso dizer para não deixarem todas as lâmpadas acesas? Da próxima vez, vão as três, juntas, para o olho da rua. De cabeça baixa, caladas, retomam seus afazeres. A da esquerda faz anotações na agenda, a do meio muda os manuais de lugar, sem se mexer, a outra, em um rodopio rápido, senta-se em frente ao computador, resignadas. O chefe permaneceria ali, pelo resto do dia, onipresente, autoritário e absoluto. Um cheiro de urina e enxofre impregnava toda a atmosfera.


Marcos Vinícius.

terça-feira, 3 de maio de 2016

O Plano Temer, os patos e o mico.


Não foram poucos os que nos últimos meses ocuparam as ruas, vestidos com o uniforme da seleção brasileira, gritando palavras de ordem, pedindo o fim da corrupção, como talvez pouquíssimas vezes o tenham feito na vida, ou mesmo, quem sabe, vez alguma, encenando coreografias, soltando rojões e muita fumaça verde e amarela, como a participar de uma grande cruzada cívica, em nome da moralidade, dos bons costumes e da coisa pública. A maioria, sem qualquer histórico de participação na vida política do país, manifestava com euforia, enrolados em bandeiras, como se mais não fossem, que grandes torcidas organizadas, diante de algum campeonato de futebol, quem sabe, a própria Copa do Mundo; sopravam cornetas, vuvuzelas, empunhavam cartazes, faixas e os patos infláveis da FIESP em uma grande festa que, certamente, acreditavam que era sua. Não era pouca coisa, lotaram avenidas e praças, bateram panelas, acompanharam dia após dia, incansáveis, as narrativas da grande imprensa, da revista Veja, da Rede Globo e congêneres, pois afinal, a história, parecia lhes reservar a condição de sujeitos e grandes salvadores da pátria. O noticiário não dava trégua e como uma onda, era necessário, arrastar-se junto às multidões contra o grande mal que estava prestes a devorar o país. Pena que, muitos ali, fanatizados pela grande descarga de propaganda política despejada pelos grandes veículos de comunicação, pouca atenção certamente tenham dado, ao longo de suas vidas, aos livros de história ou qualquer outra coisa que a isto se assemelhe. Não estavam dispostos ao diálogo ou a reflexão, o julgamento já fora feito e o sucesso de sua empreitada era apenas uma questão de tempo. Empunharam o pato e ajudaram a chocar o ovo da serpente. Não era pouca coisa. A caça às bruxas atingiu seu ápice em um domingo mórbido, onde trezentos e sessenta e sete deputados, todos honestíssimos, comprometidos com a moral, a pátria, Deus e as famílias, as suas próprias, porque as demais que se explodam, respaldaram a voz das ruas, ou o contrário, as ruas respaldaram as vozes e os discursos em uma Câmara apodrecida pela injúria, pelas grandes negociatas e pelo escárnio. Um bom exercício com os números astronômicos, talvez seja imaginar quanto terá lucrado aqueles parlamentares, que até os últimos dias, tenham se colocado na condição de indecisos e por fim, aprovaram a abertura do processo. Os valores, muito provavelmente, ao contrário do espírito supostamente nacionalista dos manifestantes nas ruas, foram pagos em moeda estrangeira. A grande questão que agora se coloca, diante da euforia do final de festa e com a vitória consumada, é o que farão agora os manifestantes com suas bandeiras desfraldadas? O mínimo que, neste momento, se pode esperar é que desembrulhem, leiam e reflitam sobre o pacote pesado que é agora lançado sobre todas as cabeças, a “Ponte para o Futuro”, o chamado Plano Temer, um dos projetos mais liberais, imperialistas, classistas e anti-povo que se tem notícia em toda a História do Brasil, um plano que, certamente, não seria respaldado por eleição alguma, em qualquer parte do mundo ou em qualquer época ou ocasião. Um receituário a ser implementado, um verdadeiro caldeirão de maldades, a deixar de penas em pé, o mais bicudo dos tucanos, no novo governo, que agora se constitui. Não é pouca coisa. Uma radical flexibilização das leis trabalhistas, com terceirizações amplas, gerais e irrestritas, uma política generalizada de privatizações, onde o público deverá tornar-se privado, de forma crônica e sistêmica, redução drástica das políticas sociais, desinvestimento em saúde e educação, alteração das regras da aposentadoria, tornando-a quase impossível em vida e o fim de qualquer entrave à ação das grandes empresas poluidoras e devastadoras do meio ambiente. É o cenário que se desenha. Dizem que ao colocarmos o ovo da serpente ao encontro da luz, enxergamos o monstro que está por nascer, devido à transparência da casca, que hoje já começa a se romper. Não são raras as ocasiões em nossa história, menos por acaso, mais como fatalidade, talvez devido a uma insuperável tradição colonialista, em que somos chamados a pagar não apenas o pato, mas também, um grande mico.


Marcos Vinícius.

18 de Abril


Há um episódio que não me sai da cabeça; não sei bem por que, de lá para cá, não me abandona o pensamento, relembro-o dia após dia. Acho que deve ser a necessidade de registrá-lo ou compartilhá-lo. Então aí vai. Era dia 18 de abril, segunda-feira, horário de almoço, o dia após a aprovação da abertura do processo de impeachment contra a presidenta Dilma, na Câmara dos Deputados. Descia a Av. Augusto de Lima em direção à Rua Goiás e angustiava-me ver todos os jornais de Minas, estampados nas bancas, em uníssono, comemorando o desfecho do processo, como se tratasse de uma grande vitória da nação e do povo brasileiro. As imagens e manchetes eram de júbilo e festa, em mais um bom exemplo do que não deveria ser o jornalismo. Parei em uma delas, desta vez, para copiar alguns documentos, e me surpreendi com a chegada eufórica de uma senhora, que postou-se bem à minha frente, escolheu um dos jornais mais populares e baratos, uma bagatela de vinte e cinco centavos e pediu à dona da banca que colocasse na sacola dez deles. Poxa, é a primeira vez na vida que vejo alguém comprando tantos exemplares de uma mesma edição. Fiquei imaginando o motivo da aquisição e não tive muitas dúvidas, certamente, trata-se de mais uma golpista, animadíssima com o espetáculo de horrores do dia anterior, e que resolveu comemorar, presenteando amigos, parentes, vizinhos ou colegas de trabalho, como se de um troféu se tratasse, ou simplesmente metida em alguma piada de mau gosto. A mulher da banca meteu os jornais na sacolinha, ela também animada com a venda rápida e a entregou para a compradora, que de imediato, comentou, Ainda bem que temos um jornal neste preço, pois caso contrário, não sei o que faria com minha cachorrinha. Ela urina pela casa inteira. E foi-se, satisfeita, com a euforia de quem havia resolvido um grande problema. Maravilha. Nunca havia imaginado a grande imprensa mineira voltada para causas tão nobres, no que esta expressão pode ter de melhor. Para não me esquecer.

Marcos Vinícius.