Uma amiga me perguntou por que perder tempo inventando histórias, que provavelmente, sequer serão lidas, escrevendo contos, enveredando-se pelas agruras de personagens imaginários? A pergunta, confesso, pegou-me de surpresa. O que poderia responder? Talvez, fosse coisa de gente descrente, que na ausência da alma ou de qualquer perspectiva de salvação, quisesse materializar alguma ideia ou pensamento. Coisa de alguém com mania de grandeza, que se acha no direito de reinventar o tempo ou criar outras humanidades. Mas não. Quando criança visitava com frequência as casas das minhas duas avós. Nos fundos dos terreiros de cada uma delas, passava um rio. Não era ainda um rio degradado e fétido como os de nossos dias. Era bonito e curioso de se ver. Muitas das vezes, ficava um bom tempo observando suas águas e imaginando o longo percurso que haviam percorrido e que ainda teriam pela frente. Terras distantes e desconhecidas, numa época em que mal conhecia as dimensões do mundo. Um mistério completo. Desde estes tempos primeiros, sempre me encantou a ideia de colocar mensagens em garrafas fechadas e atirá-las ao rio. Onde chegariam? Jamais saberia. Mas a obsessão em lançá-las, sempre me perseguiu. Talvez por isto mantenha esta persistência em inventar pequenas histórias, que talvez, jamais sejam lidas, e atirá-las ao desconhecido.
Marcos Vinicius.
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