Assim como há ateus, apartidários, anti-isto, anti-aquilo-outro, eu sou anti-futebol. Sabe aquele sujeito que já nasceu detestando o futebol? Pois é. Sou eu. Nunca me interessei por campeonatos, ligas, times, torcidas, jogos ou qualquer coisa do gênero. Ah... Mas nem a Copa do Mundo, com o Brasil na final? Não. O melhor a fazer neste dia é aproveitar as ruas vazias, andar de bicicleta, sentar no meio da avenida, pular, cantar, mas ficar sentado assistindo a partida? Isto nunca. E muito provavelmente, no dia estarei torcendo pelo país adversário, seja ele qual for. Não suporto a pergunta: Para que time você torce? Atlético ou Cruzeiro? Para nenhum oras, torço contra os dois e qualquer outro que esteja em campo. Para muitos, é um sinal claro e evidente de alguma anormalidade. Há anos, um amigo me sugeriu que respondesse que torcia pelo América, porque era um time, à época, muito pouco em evidência, e aí teria paz, e assim o fiz por muito tempo, até que um dia o time andou classificando-se em campeonatos. Sempre havia quem comentasse. E o seu América hein? Desesperado, então passei a dizer... Enganei a todos vocês, nunca torci para este time ou para qualquer outro, detesto futebol, sou anti-futebol, não me encham a paciência. Não são todos os dias em que estamos com sangue de barata. Mas desde ontem, fui colocado sob tortura intensiva. Não sei que diabo de campeonato é este que ocorreu na cidade ontem, e também não faço a menor questão de saber, onde o Atlético foi o vencedor, quando acabou a minha paz, o meu sossego. A cidade transformou-se em um grande pandemônio. Desde então, buzinas, gritos histéricos e estridentes soam por todos os lados, cortando a madrugada adentro. Vizinhos berrando como estivessem à morte, estouros, bombas e rojões, como se já não bastassem as bombas de gás lacrimogêneo, que agora conhecemos tão bem, lançados a torto e à direita, pela polícia durante todo o mês de junho. Imagina que incrível seria se o brasileiro mobilizasse toda esta força e energia para manifestar-se por um país mais justo e igualitário. Hoje cedo, já pela manhã, o buzinaço continuava, hinos do clube ressoavam em todos os automóveis, parcela da população mantém-se hipnotizada. Um inferno. A televisão, o rádio, as ruas, o facebook, em todos os cantos, não se fala outra coisa. Acabo de ver que a Praça Sete está tomada de torcedores fanáticos, com suas bandeiras em preto e branco, descoloridas, festejando uma vitória, que em última instância, não é sua. Quase enlouqueço. Ainda agora, quando escrevo este desabafo, um alto falante potente, estrondoso, com a mesma gritaria, acaba de cruzar a minha rua. Por fim, cansado, já irritado com o ruído que não cessa nunca, resolvo ir até um restaurante mais isolado, onde talvez pudesse livrar-me deste vandalismo futebolístico. Andei quilômetros, consegui enfim, um canto sossegado, vazio, um restaurante, onde além de mim, apenas um senhor tomava sua cerveja na mesa ao lado, quieto e reflexivo. Maravilha, era tudo o que eu queria. Finalmente, relaxei, e descontraído e feliz, aparentemente livre da euforia infernal, sem perceber, depois de pedir o almoço para a garçonete, sorri para o senhor, meu vizinho de mesa, pois a tranquilidade voltara a reinar e eu respirava aliviado. Foi a senha. Ele se levantou, saiu de onde estava, e do alto da sua experiência, já com mais de cinquenta anos de idade, aproximou-se para me contar, enquanto eu almoçava, sua longa história de torcedor, para enfim, tentar me convencer do quanto estava feliz e o do dom que tem o futebol de aproximar as pessoas.
Marcos Vinícius.
Marcos Vinícius.
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