Territórios na aldeia global.
Vivemos um tempo de grandes e profundas contradições, como talvez sempre tenha sido. Há quem diga que são elas, as contradições, quem guardam as chaves do mundo e são a força-motriz das grandes engrenagens da história. Mas em dadas ocasiões, algumas delas, por serem tão gritantes, tão evidentes e típicas de um momento preciso, parecem mesmo marcar uma época, um período de média ou longa duração. Se procurarmos bem pelos fios e veredas do tempo, veremos que cada época, cada período, idade ou era, trazem as que lhes são próprias, que pertencem aquele momento e a nenhum outro. Assim, supostamente, caminha a humanidade. A espécie humana caminha por sobre um fio, sobre um abismo de contradições. Atualmente, o que chama a atenção de forma particularmente exagerada, são as contradições entre as relações que se estabelecem entre o público e o privado, na construção da chamada aldeia global. Não é algo de difícil percepção. Há um processo contínuo, iniciado nas últimas décadas, intensificado nos últimos anos, de transformar de forma radical e irreversível o que é público em privado e o que há muito acreditávamos pertencer ao espaço meramente privado, vem tornar-se a cada dia, de domínio público.
O mundo da globalização é a vitória do mundo do mercado. A chamada aldeia global torna-se um paraíso privado, uma ilha de delícias e negócios, ladeada pelo grande oceano da exclusão social e econômica. O mundo dos ricos é o mundo do esbanjamento e do desperdício e o mundo dos pobres, o mundo das bombas e da escassez absoluta. É o mundo da peste e das grandes fomes, o mundo das guerras. Um mundo a mirar-se no espelho, refletido às avessas. A imagem de uma época. Tem sido assim. Fora estas contradições maiores, fundamentais, absolutas, estruturais, outras mais, vamos encontrando pelos caminhos. Vivemos uma fase do desenvolvimento econômico, onde o capital torna-se cada vez mais guloso, em um contexto de estados nacionais enfraquecidos e com governos subservientes a seus interesses imediatos. Nestas condições, as riquezas das nações, são geralmente extorquidas para as grandes bolsas de valores, onde o milagre da vida, torna-se jogatina, onde ganham poucos gatunos e espertalhões e sacrifica-se, no altar dos negócios, uma humanidade inteira. A grande cartada das corporações multinacionais foi adquirir, nos últimos anos, empresas nacionais, lucrativas, a preço de banana, através de esquemas, negociatas, pelos balcões dos partidos políticos, em redes de influências e corrupções. O que era público tornou-se privado, como nunca até então, se havia visto. No Brasil, o governo FHC levou a política de privatizações à sua efetivação mais radical. Era a modernidade à moda tucana. O patrimônio público do país foi à feira. Muitos enriqueceram, os brasileiros, de maneira geral, ao contrário, ficaram mais pobres.
A tendência é, portanto, mundial. A palavra de ordem é privatizar. Privatizamos os rios, as terras, as águas, as matas. Privatizamos as gentes. Privatizamos tudo. Privatizamos a vida. Privatizamos os sonhos. Tudo foi colocado à venda. Tornamo-nos coisas, negociáveis, vendáveis. É a lei maior. A lei do mercado. As grandes corporações apropriaram-se do nosso mundo físico, do nosso labor, com o seu dinheiro, e expropriaram nossas almas, com a sua propaganda, suas verdades de mentira. Em que acreditamos todos. É a modernidade que a tudo salvaria. O mundo da globalização em que todos caberiam, e onde entre os homens, menos fronteiras haveria.
Mas o que é fato, e o que motiva a reflexão, é mostrar a tendência, do que era público, tornar-se privado, como a lógica mesmo de ser do mundo contemporâneo, e o que foi de domínio privado, caindo vertiginosamente no espaço público. As contradições que fazem época. De um lado, uma política de privatizações radical, de outro, uma exposição pública de nossas vidas privadas, cada vez mais intensiva. Vivemos na sociedade de informação e, portanto, sociedade do controle, que se pretende fazer, de forma completa, total. As grandes empresas, através de uma grande revolução nos sistemas de informações nos controlam a todos. Sabem nossas preferências, de todos os tipos, o que comemos, o que vestimos, com o que trabalhamos, com o que gostaríamos de trabalhar, para onde fomos e onde pretendemos passar as próximas férias, se empregos tivermos para tanto. Um trabalhador que por ventura, mover ação judicial, trabalhista contra seus patrões, estará provavelmente condenado, a não conseguir mais empregos em seu setor de trabalho, ou talvez mesmo, em qualquer outro setor, pois a classe patronal, possue a seu serviços outras empresas especializadas que se encarregam de rastrear os pretendentes às suas escassas, quando as tem, ofertas de emprego. As câmeras nos vigiam a cada passo, em todos os horários, e em quase todos os lugares. Somos intimamente monitorados. Até onde? Vamos perdendo a dimensão do espaço privado, em uma tendência ascendente. Às vezes, parecem nos faltar, apenas os chips.
Ao usarmos as novas ferramentas de informação e comunicação, baixamos para nossas máquinas, cada vez mais velozes, as tantas vidas privadas que se expõem por aí, ora menos, ora mais que nós mesmos. Fazemos downloads de nossas fantasias, nossos desejos e sonhos, fazemos uploads de nossas frustrações, nossa identidade, na ilusão da cidadania perdida. Perdemos nossos espaços públicos, e acabamos por tornar públicos a nós mesmos. No fundo, sentimo-nos seduzidos pela exposição. Nos escancaramos, nos blogs, nos arquivos virtuais, pelos vídeos domésticos, pelos álbuns de imagens das grandes comunidades virtuais. Aposto como nos próximos anos, a maioria dos jovens casais, enamorados, terão seus momentos de prazer e intimidade, ao contrário do que as gerações que nos antecederam, geralmente o fizeram, às escondidas, mas à vista de quem se dispuser a assisti-los pela tela do computador ou aparelho celular. Sim. O que era público fez-se privado, e o privado, público tornou-se. Assim ensaiam-se os primeiros passos do terceiro milênio. A engatinhar-se.
O mundo da globalização é a vitória do mundo do mercado. A chamada aldeia global torna-se um paraíso privado, uma ilha de delícias e negócios, ladeada pelo grande oceano da exclusão social e econômica. O mundo dos ricos é o mundo do esbanjamento e do desperdício e o mundo dos pobres, o mundo das bombas e da escassez absoluta. É o mundo da peste e das grandes fomes, o mundo das guerras. Um mundo a mirar-se no espelho, refletido às avessas. A imagem de uma época. Tem sido assim. Fora estas contradições maiores, fundamentais, absolutas, estruturais, outras mais, vamos encontrando pelos caminhos. Vivemos uma fase do desenvolvimento econômico, onde o capital torna-se cada vez mais guloso, em um contexto de estados nacionais enfraquecidos e com governos subservientes a seus interesses imediatos. Nestas condições, as riquezas das nações, são geralmente extorquidas para as grandes bolsas de valores, onde o milagre da vida, torna-se jogatina, onde ganham poucos gatunos e espertalhões e sacrifica-se, no altar dos negócios, uma humanidade inteira. A grande cartada das corporações multinacionais foi adquirir, nos últimos anos, empresas nacionais, lucrativas, a preço de banana, através de esquemas, negociatas, pelos balcões dos partidos políticos, em redes de influências e corrupções. O que era público tornou-se privado, como nunca até então, se havia visto. No Brasil, o governo FHC levou a política de privatizações à sua efetivação mais radical. Era a modernidade à moda tucana. O patrimônio público do país foi à feira. Muitos enriqueceram, os brasileiros, de maneira geral, ao contrário, ficaram mais pobres.
A tendência é, portanto, mundial. A palavra de ordem é privatizar. Privatizamos os rios, as terras, as águas, as matas. Privatizamos as gentes. Privatizamos tudo. Privatizamos a vida. Privatizamos os sonhos. Tudo foi colocado à venda. Tornamo-nos coisas, negociáveis, vendáveis. É a lei maior. A lei do mercado. As grandes corporações apropriaram-se do nosso mundo físico, do nosso labor, com o seu dinheiro, e expropriaram nossas almas, com a sua propaganda, suas verdades de mentira. Em que acreditamos todos. É a modernidade que a tudo salvaria. O mundo da globalização em que todos caberiam, e onde entre os homens, menos fronteiras haveria.
Mas o que é fato, e o que motiva a reflexão, é mostrar a tendência, do que era público, tornar-se privado, como a lógica mesmo de ser do mundo contemporâneo, e o que foi de domínio privado, caindo vertiginosamente no espaço público. As contradições que fazem época. De um lado, uma política de privatizações radical, de outro, uma exposição pública de nossas vidas privadas, cada vez mais intensiva. Vivemos na sociedade de informação e, portanto, sociedade do controle, que se pretende fazer, de forma completa, total. As grandes empresas, através de uma grande revolução nos sistemas de informações nos controlam a todos. Sabem nossas preferências, de todos os tipos, o que comemos, o que vestimos, com o que trabalhamos, com o que gostaríamos de trabalhar, para onde fomos e onde pretendemos passar as próximas férias, se empregos tivermos para tanto. Um trabalhador que por ventura, mover ação judicial, trabalhista contra seus patrões, estará provavelmente condenado, a não conseguir mais empregos em seu setor de trabalho, ou talvez mesmo, em qualquer outro setor, pois a classe patronal, possue a seu serviços outras empresas especializadas que se encarregam de rastrear os pretendentes às suas escassas, quando as tem, ofertas de emprego. As câmeras nos vigiam a cada passo, em todos os horários, e em quase todos os lugares. Somos intimamente monitorados. Até onde? Vamos perdendo a dimensão do espaço privado, em uma tendência ascendente. Às vezes, parecem nos faltar, apenas os chips.
Ao usarmos as novas ferramentas de informação e comunicação, baixamos para nossas máquinas, cada vez mais velozes, as tantas vidas privadas que se expõem por aí, ora menos, ora mais que nós mesmos. Fazemos downloads de nossas fantasias, nossos desejos e sonhos, fazemos uploads de nossas frustrações, nossa identidade, na ilusão da cidadania perdida. Perdemos nossos espaços públicos, e acabamos por tornar públicos a nós mesmos. No fundo, sentimo-nos seduzidos pela exposição. Nos escancaramos, nos blogs, nos arquivos virtuais, pelos vídeos domésticos, pelos álbuns de imagens das grandes comunidades virtuais. Aposto como nos próximos anos, a maioria dos jovens casais, enamorados, terão seus momentos de prazer e intimidade, ao contrário do que as gerações que nos antecederam, geralmente o fizeram, às escondidas, mas à vista de quem se dispuser a assisti-los pela tela do computador ou aparelho celular. Sim. O que era público fez-se privado, e o privado, público tornou-se. Assim ensaiam-se os primeiros passos do terceiro milênio. A engatinhar-se.
Marcos Vinícius.
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