Não há quem não tenha assistido a
uma grande produção cinematográfica, campeã de bilheterias, no campo da ficção
científica, onde trava-se uma luta mortal entre as forças que representam a
humanidade e sua salvação e as forças demolidoras do fim dos tempos. Imagine o
já tradicional enredo em que tramas malignas são postas em ação, por
personagens fantasiosos que destacam-se pela crueldade e pelo desejo mórbido de
verem destruídas a humanidade e sua civilização. O cinema soube explorar, com
espetaculares efeitos especiais, as imagens destas grandes pelejas. O mundo em
chamas, rachaduras e fendas gigantes abrindo-se na terra e engolindo os homens,
grandes explosões, abalos sísmicos, bombas, tiros e desabamento de cidades
inteiras. Não foram poucos os filmes em que estas forças poderosas e nefastas
lutaram contra os defensores da humanidade por algum código, segredo, alguma
substância mágica, que pudesse, enfim, salvá-la ou exterminá-la de vez. Muitas
das vezes, o filme inteiro é isto. Uma guerra fantástica e grandiosa entre as
forças que procuram preservar a espécie e as que ressurgem das trevas e dos
subterrâneos para condená-la ao fim. As disputas travam-se pelo domínio de
alguma chave, alguma fórmula, um mapa, uma poção encantada, que possa selar os
destinos dos homens. Vendo, nos últimos meses, as poderosas forças que governam
o país utilizando-se dos mais impressionantes e cruéis meios para aumentar as
estatísticas e os números da morte, e ainda agora, as imagens das vacinas, que
nunca chegam até nós, tenho a trágica sensação de um mundo ruindo sob os pés,
como se houvesse acordado dentro de um filme destes. E acho que é isto mesmo,
acordei dentro de uma destas ficções mirabolantes, de péssimo gosto, e
terrivelmente devastadoras. No momento em que escrevo, já ultrapassamos as
duzentas mil mortes e ainda são as mesmas forças a apertarem os botões.
Marcos Vinícius.
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