Nunca tive uma relação amistosa
com os insetos, principalmente, se estão dentro de casa. Coloco-os para fora,
espanto-os ou até mesmo, em último caso, acabo por matá-los, quando são
ameaçadores como os pernilongos, muriçocas e congêneres. Há ainda aqueles grandes,
volumosos e pesados que, causam certa repugnância e melhor seria se
permanecessem nas copas das árvores, em meio as folhas e arbustos, de onde,
certamente, saíram, e ainda há um mundo assim à disposição deles. Se os
encontro dentro do quarto então, não durmo enquanto não me livro das incômodas
presenças, a exceção de mosquitinhos menores ou as pequenas mariposas. Quando
são muitos, em enxame, e não dão sossego, não penso duas vezes antes de
borrifá-los com o inseticida, livrando-me do desconforto. Mas como a vida é uma
caixa de surpresas, hoje vivi uma situação inédita e interessante com um deles.
Aproximei-me da mesa branca que tenho nos fundos de casa e, acima dela, um
inseto bem pequenino tentava, sem sucesso, alçar vôo. Ele levantava-se, rodopiava
no ar e caía novamente, tentava repetidas vezes, sem conseguir engrenar um vôo
que o tirasse dali. Aparentemente, de forma involuntária, voava em círculos,
sem livrar-se da mesma órbita. Tentou várias vezes e a trajetória era sempre a
mesma. Girava, girava, girava, e não saía do lugar. Depois de um tempo,
certamente, cansado das infrutíferas tentativas, permaneceu em repouso sobre a
mesa. Aí pude observá-lo de perto e atentamente. Nunca havia visto uma espécie
assim. É um inseto bem pequenino, com asas longas, arredondadas, compridas e
transparentes. Tem duas antenas enormes, finíssimas, cada uma delas infinitas
vezes maior que o conjunto dos demais membros do corpo do minúsculo
invertebrado. É realmente impressionante a extensão das antenas, e fico imaginando
como deve ser viver com uma estrutura assim. Ao aproximar-me ainda mais do
quase invisível ser, observo que as duas antenas estavam presas uma na outra
por um pequeníssimo fiapo embolado entre elas. Neste momento, resolvi realizar
uma boa ação voltada a um inseto. É muito comum vermos imagens de pessoas
salvando cães, gatos, pássaros, mamíferos, em geral, mas, salvar, desta forma,
a vida de um inseto, imagino que seja algo incomum, a ponto de merecer
registro. Pois então. Peguei um pequeno graveto do chão, arranquei-lhe duas
lascas e, com uma delas, com o máximo de delicadeza possível, prendi,
levemente, as antenas na mesa e, com a outra lasquinha, em uma minuciosa
operação, arranquei o fiapo embaraçante que amarrava uma antena à outra. No
instante em que soltei o bichinho, ele esticou os dois articulados apêndices,
como a conferir se tudo já se encontrava em ordem e, rapidamente, levantou um
vôo certeiro, em linha reta e em direção ao céu. Não mais o vi. Talvez tenha
mudado, a partir do episódio, a minha relação com estes seres tão estranhos a
nós, ainda há que se confirmar, mas o certo é que arranquei o pequeno fio,
realizando uma minúscula boa ação e, mesmo que, quase invisível, ainda assim,
proporcionou o encanto e a alegria de fazer voar.
Marcos Vinícius.
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