Amanhã é dia de retornarmos às
urnas. Já são dois anos que o fizemos pela última vez e os estragos são, não
apenas explicitamente visíveis, como a maioria da população brasileira já sente
na pele, muitos no estômago, a dimensão da irresponsabilidade que a cada dois
anos deposita nas urnas. Amanhã vou até a urna com um sentimento de apreensão,
não apenas pelos excessos de precauções sanitárias que há que se tomar até o
momento do voto, mas pelos resultados que colheremos de nossas novas escolhas.
Obviamente, não podemos nos largar das esperanças, pois sem elas, o que nos
resta? Porém, ao observarmos um pouco atentamente o Brasil que vai às urnas,
não nos faltará motivos para preocupações. O Brasil que vai às urnas é um país
doente, não apenas pela pandemia que já matou mais de cento e sessenta mil
brasileiros e pelos milhões de infectados, mas por possuir um eleitorado de uma
irresponsabilidade tal que, pode alçar aos cargos de controle e aos governos,
loucos, perversos, sádicos, assassinos, malfeitores de toda a ordem, da noite
para o dia. Nos últimos anos, o festival de ignorância e de absurdos que temos
visto, por parte de uma ampla parcela do eleitorado, realmente, é de fazer cair
o queixo e arrepiar os cabelos. O Brasil que vai às urnas amanhã é um país que
desconhece seu passado, ainda cai nas mesmas armadilhas de sempre, a cada
eleição, mais sofisticadas, um país que mitifica bandidos e sádicos, e
especializou-se na arte de atirar nos próprios pés. O Brasil que vai às urnas
amanhã ainda carrega quem defenda torturas, ditaduras, genocídios, extermínios
em massa e a senzala. O Brasil que vai às urnas amanhã é o país que lota
templos suntuosos, supostamente cristãos, onde fiéis louvam a deus fazendo
arminhas com a mão. É um país de desigualdades profundas. O Brasil que vai às
urnas amanhã é o país da impunidade, da fake news, do império da mentira, que
aplaude a retirada de direitos, a pena de morte, a subserviência e o
entreguismo. O Brasil que vai às urnas amanhã é o país do dedo duro, do puxa
saco, do lambe botas, dos sem noção, da não ciência, que queima livros, apaga a
poesia, desconstrói conhecimentos, culturas e saberes. O Brasil que vai às
urnas amanhã é o Brasil sem saúde, sem educação, sem políticas públicas, sem
criatividade política, é o país que nega cidadanias e a própria vida. O Brasil
que vai às urnas amanhã é o Brasil que estaciona sobre o meio fio, fura filas,
avança os sinais, que atropela sem olhar para trás, do golpe fácil, da mentira
deslavada. É o país onde há quem defenda que a Terra é plana, que é contra
vacinas, e que diante da economia e do capital, a vida é nada. O Brasil que vai
às urnas amanhã é o Brasil, onde morrem mil pessoas a cada dia, vítimas do novo
coronavírus e da ignorância em sua modalidade mais mortífera e assustadora. O
Brasil, onde se enterram mil a cada dia, mortos pela pandemia, é o Brasil que
programa festas, comemorações, churrascos, reuniões familiares, enche os bares,
visita parentes, amigos, vizinhos, onde se tosse uns sobre os outros. É o
Brasil que mata o segurança do supermercado, ao ser cobrado sobre cuidados
mínimos. O Brasil que vai às urnas amanhã é um pobre doente, trocou os sonhos
pelo engano, e aglomera-se com a máscara no pescoço. São mais de quinhentos mil
candidatos na disputa em todo o país. O que sairá daí? Ouço muitos candidatos
dizendo que há que se votar com a esperança, pois o voto do ódio já nos trouxe
estragos demais. Que assim seja. Um bom voto para todos.
Marcos Vinícius.