Havia prometido a mim mesmo que
não voltaria a ocupar este espaço para falar de política, não só para não
amolar os colegas que, vez ou outra, perdem seu tempo com o que escrevo aqui,
como para evitar assuntos desagradáveis, pessimistas e vazios de esperança, que
é o que se transformou a política em nosso país e em nossa cidade. Mas vou
quebrar a promessa, pois sinto-me tentado a algumas considerações. Belo
Horizonte, palco de inúmeras lutas e manifestações populares, que nos últimos
anos, apresentaram-se revigoradas, com o surgimento de novos e diversos
coletivos, movimentos de rua, como Praia da Estação, Fora Lacerda, Tarifa Zero,
Ocupa a Câmara, ocupações urbanas, Atingidos por Barragens, Marcha das Vadias,
movimento Hip-Hop, movimentos feministas, LGBT e outros tantos, apresentou uma
campanha eleitoral nos modelos mais atrasados e reacionários que conhecemos, a
anos-luz de distância da efervescência política que tomou conta de nossas ruas
e praças. As duas candidatas à Prefeitura, mulheres, pobres, lideranças
sindicais e sempre presentes nas lutas cotidianas da cidade, não encontraram
espaço nas mídias e nos veículos convencionais de informação, foram impedidas
de participarem dos debates televisivos e suas candidaturas acabaram por
tornarem-se irremediavelmente invisíveis, resultando em uma votação pífia e
muito pouco expressiva. Grande parte da população foi às urnas sem sequer saber
da existência destas candidatas. O debate político-eleitoral tornou-se
enfadonho, com muito do mesmo, e os candidatos, sempre previsíveis, apesar de
apresentarem algumas pequenas divergências, discordâncias pontuais, pertencem
todos ao mesmo campo, tem o mesmo discurso e o mesmo projeto. A grande novidade
que temos, talvez seja um segundo turno, com duas candidaturas com um histórico
ligado ao Clube Atlético Mineiro, o que nos faz entender, lamentavelmente, que
o eleitorado belo-horizontino, grosso modo, não encontra grandes diferenças
entre a disputa política e os jogos e campeonatos do Mineirão. Em uma partida
sem entusiasmo, num eterno e entediante zero a zero, parece que nos sobrou a
opção do nada ao lugar nenhum. É o que temos, quase uma morte da política,
enquanto um campo de possibilidades. A esperança encurralou-se em um beco sem
saída e o voto nulo torna-se um dever cívico. O projeto popular que um dia
encontrou ressonância no Partido dos Trabalhadores frustrou-se; as
candidaturas, vermelho-desbotadas, acabaram por tornarem-se plataformas chapas
brancas, que no âmbito nacional, acabou por desaguar em um dos governos mais
antipovo da história do país e no caso de Belo Horizonte, após anos e anos de
governos petistas, temos uma administração que transformou a cidade em um
imenso laboratório das políticas neoliberais levadas à radicalidade. Não é isto
o governo Lacerda? A cidade como Business City, território dos grandes
negócios, do empresariado e empreiteiros, não a pólis democrática, cidadã e
popular. A capital do concreto. Os governos Temer e Lacerda, no entanto, não
são resultado de uma frustração de anos das administrações petistas, onde a
população insatisfeita resolveu votar na oposição. São nomes da continuidade, e
apesar da ruptura posterior e do golpe que ora nos abate, quer queiramos ou
não, chegaram onde estão em alianças com o petismo. A história é esta. Enfim, apesar
do grande jogo das cartas marcadas e o júbilo da vitória não ecoar em nossos
ouvidos, pois a festa restringe-se às muralhas da casa grande, a conquista de
duas vagas na Câmara dos Vereadores pelo PSOL e a eleição de Áurea Carolina é
um alento. Candidata do campo popular, mulher, negra, pobre, militante,
feminista, que promete um mandato radicalmente democrático, porta-voz da
juventude, dos ambulantes, da população de rua, e cujas palavras de ordem, ao
lado do Fora Temer, são nenhum direito a menos e nenhum despejo a mais, além de
recordista na votação, nos permite constatar que, mesmo em meio às maiores
adversidades, nem tudo está perdido. E a tal esperança, sempre ela, mesmo que
não seja a última a morrer, ainda nos dá um pouco de alegria, quando sentimos o
sopro do seu suspiro.
Marcos Vinícius.
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