sábado, 22 de novembro de 2014

Fala sério, presidenta!



Fala sério, presidenta!


Desde que passei a conhecer um pouco sobre a história do Brasil, sempre acreditei ser completamente impossível garantir qualquer tipo de crescimento econômico com justiça social, sem que antes se efetive uma reforma agrária, que sepulte de vez, a perversa estrutura fundiária do nosso país. A altíssima concentração de terras, institucionalizada por séculos, talvez seja, um dos principais fatores responsáveis pelo nosso subdesenvolvimento crônico, pela pobreza profunda e a escassez absoluta, marcas registradas de nossa história de longa duração. O latifúndio é a fatalidade que fez do país, do Descobrimento para cá, terras da fome. Gerações e gerações de miseráveis e famintos, sujeitos ocultos de uma história muitas vezes silenciada, são o resultado de uma política agrária que expulsou uma humanidade do campo e transformou as cidades brasileiras em réplicas de um inferno completo. Guerra urbana, violência generalizada, modernas modalidades de escravidão, poluição, falta de moradia, transporte, condições de higiene e saúde, enfim, todos os males que transformaram nossas cidades, onde se concentram mais de setenta por cento da população brasileira, em formigueiros humanos, territórios apinhados de gente, onde nos acotovelamos uns aos outros, tem suas raízes históricas mais profundas, no latifúndio, que a todos engole. Nas grandes propriedades de terra de nosso país, já conhecido por suas dimensões continentais, não cabem mais as gentes, são territórios do agronegócio, do desmatamento, do gado gordo e povo esquálido, pastagens que são países, territórios da mineração, que fazem desaparecer nossas serras, sítios arqueológicos, mananciais, infinitas modalidades de vida. Somos uma sociedade em movimento e a luta pela terra no Brasil, sempre fez um número apocalíptico de vítimas. São incontáveis os trabalhadores rurais, homens do campo, sem-teto, sem-terra, expropriados de toda ordem, que tombaram vítimas da truculência sempre muito bem armada dos grandes proprietários. Foram inúmeros os movimentos que se constituíram ao longo dos séculos na busca por justiça social, pelo direito a terra, ao trabalho, ao alimento e a um mínimo de dignidade. Inúmeros os mortos.


Não é novidade para ninguém que a ausência total de escrúpulos já faz parte, também há muito tempo, de nossa corrompida cultura política. Não é novidade alguma, que o atual governo, petista, de nossa tão vilipendiada República, é refém não é de hoje, além de si próprio e suas contradições, da sanha de fisiologismos, esquemas e negócios do PMDB. O partido, pode se dizer, é aliado antigo. É sabido que PT e PMDB, apesar dos conflitos e guerras intestinas, já se imbricaram em uma relação praticamente simbiótica. Agora, nomear a senadora Kátia Abreu para Ministra da Agricultura é escárnio, não apenas pelo que ela representa, mas pelo símbolo em que se transformou. Kátia Abreu é a representante maior da bancada ruralista no Congresso Nacional, do agronegócio, das sementes transgênicas; articuladora, porta-voz, testa de ferro, do que há de mais atrasado e perverso em nossa agenda política. Ao optar pela senadora para o controle da pasta responsável pela questão agrária, a presidenta Dilma transmite um inequívoco e lamentável sinal. Não bastasse a eleição de um dos Congressos mais reacionários das últimas décadas, a presidenta dá uma imperdoável guinada à direita, oferecendo aos movimentos populares e aos lutadores sociais, e principalmente, a muitos de seus eleitores, a ressaca de uma derrota, quiçá mais apropriada para seus adversários, recentemente abatidos nas urnas.

Marcos Vinícius.

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