Sabe aquela fase da vida em que
tudo vai dando errado e parece que os problemas não vão ter fim, sucedendo-se
um após o outro? Pois é. Ontem tive que submeter-me a um procedimento médico
não muito agradável, uma colonoscopia, qual seja, a introdução de uma grande
mangueira no ânus, para que se realize uma vistoria completa no intestino.
Estava deitado na maca tomando soro, preparando-me para o exame, quando entrou
uma equipe de enfermeiras responsáveis pelos procedimentos. Qual não foi minha
surpresa ao constatar que uma delas havia sido minha aluna há anos. Pensei,
espero que não seja ela, a responsável por acompanhar-me. Mas como a sorte
realmente resolveu me abandonar, era ela mesma quem iria realizar os procedimentos.
Ela aproximou-se, mexeu no soro, ajeitou minha manta, olhou para mim umas duas
vezes, indiferente, e pensei aliviado – não me reconheceu. Que maravilha.
Procurei não encará-la, desviei o olhar, virei-me de lado e imaginei estar
livre do constrangimento. Ela realmente não reconheceria, eu estava bem mais
velho, com a barba branca, e já não era quem fui. Quando a moça começou a
manobrar minha maca para levá-la para a sala dos exames, virou-se para mim de
súbito, e perguntou: Você por acaso é professor? Putz, não é possível. Havia
sido descoberto. Constrangido, quase gaguejando, respondi que sim. Era tarde.
Professor, há quanto tempo, ela disse. De imediato, pus-me a imaginar se
já havia tido algum problema com a ex-aluna, notas ruins, algum
desentendimento, coisas do gênero. Enquanto ela manipulava frascos, mangueiras
e seringas, virei-me para ela e disse: Espero que não a tenha maltratado um
dia. Ela esboçou um malicioso e indisfarçável sorriso de satisfação pelo canto
da boca, abaixou minhas calças, pediu que me virasse de lado, introduziu-me uma
injeção enorme no braço esquerdo e não me lembro de mais nada.
Marcos Vinícius.
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