sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Imagens do poder




Os jornais do dia 10 de Dezembro trouxeram estampados em sua primeira página fotos da presidenta Dilma ao lado de seus antecessores, Lula, Fernando Henrique, Collor e Sarney, antes de embarcarem para a cerimônia de despedida de Nelson Mandela. Há quem diga que a imagem representa o espírito conciliatório de nossa cultura política, transmite uma sensação de paz e estabilidade institucional, simbolizando um mito do povo brasileiro, capaz de deixar de lado prováveis divergências, em nome do bem comum. Olhando, assim, rapidamente, podemos mesmo nos enganar à primeira vista. Mas se nos detivermos mais atentos sobre o colorido verde e amarelo estampado e permitirmo-nos escarafunchar um pouco nossas tão esquecidas memórias, veremos que a fotografia, a princípio, tão promissora, pode tornar-se um desalento, e certificarmos mais uma vez, de forma quase folclórica, nossa fatalidade histórica. A imagem de Sarney, de óculos escuros, parece retirada da capa do livro do jornalista Palmério Dória, “Honoráveis Bandidos”, que disseca, detalhadamente, as operações mafiosas montadas por sua família durante décadas no Estado do Maranhão, afora os escândalos que pipocaram a torto e à direita, enquanto à frente do nosso país. Alguém ainda se lembra do famoso “Caçador de Marajás”, o grande golpe da Rede Globo, aliada ao mundo das negociatas, onde o salvador da pátria, que vinha nos redimir, acabou não podendo concluir seu mandato devido ao universo de falcatruas com os quais se envolveu? A literatura política nacional e a imprensa investigativa, a cada dia, nos permitem conhecer melhor os subterrâneos dos palácios e os meandros das pocilgas do tucanato. O livro “A Privataria Tucana”, de Amaury Ribeiro Júnior, nos mostra, em trezentas e trinta quatro páginas, como desmontar um país, e fazer da política, um sofisticado balcão de negócios. Os jornais vem nos revelando, a cada dia, com quantas propinas, se monta um ninho tucano.  O ex-presidente Lula, desta vez, faz pose para uma viagem de caráter humanitário, velório do líder sul-africano, ao contrário, do que tanto temos visto por aí, quando tem viajado, quase que exclusivamente a negócios, na maioria das vezes, acompanhado de grandes empreiteiros, representantes de construtoras, empreendedores que vão estendendo para outros países, possibilidades de acordos, contratos e lucros. A bem da verdade, acho que quem ficou bem mesmo na fita, ou na foto, foi Barack Obama, nos jornais do dia seguinte. Apesar da falta de decoro de deixar-se flagrar em fotos alegres junto a outras lideranças em plena cerimônia fúnebre, e da cara de poucos amigos de sua esposa Michelle, acabou roubando a cena, fotografando-se, em total descontração, ao lado de uma beldade elegantíssima, primeira-ministra, da qual pouco nos lembramos, e a população mundial, admirada, sequer tem interesse em saber de quem se trata.


Marcos Vinícius.

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