sexta-feira, 13 de julho de 2018

Do texto à tela




Foram poucas as vezes que assisti filmes, dos quais já havia lido seus livros originários. Em um esforço de memória, consigo me recordar apenas de meia dúzia deles. Na maioria dos casos, sempre considerei os resultados muito decepcionantes, frustrantes, mesmo. “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley, assisti há anos, era garoto na ocasião, e pouco me lembro da versão para as telas, apenas uma lembrança bastante corroída pelo tempo, de que, ao fim e ao cabo, empobrecera a obra da qual havia nascido. “Feliz Ano Velho”, de Marcelo Rubens Paiva, também, por motivos que já pouco me recordo, foi um desalento; lembro-me de ter reclamado desta interpretação em várias ocasiões, talvez, pelo padrão global adotado, no esforço de sua adaptação. “1984”, de George Orwell, passou longe das emoções que apenas o livro foi capaz de despertar. “O processo”, de Franz Kafka, deste me recordo bem, foi de uma pobreza inigualável, sofrível; cheguei a assistir uma segunda vez, para verificar, se alguma falta de sensibilidade ou de percepção havia me impedido de admirá-lo da primeira vez que o vi. Não, o filme é ruim mesmo, e já o desaconselhei por mais de uma vez. O livro é uma obra prima. Quanto ao “O perfume”, de Patrick Suskind, não é que seja ruim, o esforço foi louvável, houve muita repercussão à época de seu lançamento, e lotou os cinemas. Ouvi vários elogios. O problema é que fiquei muito encantado e admirado com a leitura desta obra, achei-a, simplesmente, fantástica e a considero uma das maiores pérolas da literatura, que tive a feliz oportunidade de conhecer. Não apenas a história é fascinante, como a narrativa do autor, seu dom literário e o estilo da sua escrita, tornaram sua leitura, inesquecível. Natural que nestas condições, o filme não tenha me deixado em estado de completa satisfação. Já “Cegueira”, da obra de José Saramago, adaptado por Fernando Meirelles, apesar da grande dificuldade que imagino ser, levar para o cinema, qualquer das obras do autor, foi um filme, no mínimo, razoável. O que faz da literatura de Saramago algo fabuloso não são apenas as histórias em si, seu enredo e roteiros, mas a forma como as conta, sua narrativa, as reflexões filosóficas que vai traçando ao longo dos textos. É o que talvez, o torne único, inigualável, somada a riqueza da sua prosa poética. Isto o cinema não tem como explorar. José Saramago, ao longo de sua vida, sempre ofereceu uma dura resistência em permitir que seus livros fossem levados para as telas. Porém, a reação do autor português, dentro do cinema, ao lado de Meirelles, ao acabar de ver a película, tornou-se memorável, Saramago chora, chega ao ponto de enxugar com os dedos, as lágrimas dos olhos, e diz, “Fernando, estou tão feliz por ter visto este filme, como estava quando acabei de escrever o livro”. Dito isto, já não há mais o que acrescentar. Bem, na verdade, teci esta breve recordação para, finalmente, falar sobre o estado de graça em que fiquei ontem, ao assistir o longa-metragem “O amor nos tempos do cólera”. Sou fã incondicional de Gabriel Garcia Márquez, e já li todos os seus romances. Por anos resisti em ver o filme, com o receio de que ele pudesse quebrar a magia e o encanto que me vem à mente, ao rever qualquer uma de suas histórias. Porém, ontem, com ele em mãos, resolvi vê-lo. Belíssimo, maravilhoso. Um grande clássico do cinema. Tudo impecável, atores, fotografia, texto, paisagens, adaptação ao cenário de época, figurino, fidelidade à obra, tudo. É daqueles filmes que a gente tem que assistir sem piscar, para não perder nem um pedacinho. Que bom, nunca havia visto algo assim. Emocionante, de verdade. Além da lindíssima história de amor, poesia e perseverança, no melhor estilo de Garcia Márquez. E como bem disse, Florentino Ariza, seu protagonista, “Depois de 54 anos, sete meses, onze dias e noites, meu coração, finalmente, se realizou. E eu descobri, para a minha alegria, que é a vida, e não a morte, que não tem limites”.


Marcos Vinícius.

quinta-feira, 12 de julho de 2018

Junho de 2018




Roda Viva, semimorta, convoca um bolsominion-ruralista, um aloprado do MBL, fakes de jornalistas, a tropa de choque da direita mais escrota e reacionária que temos por aqui, para triturar a candidata Manuela D`'Avila, ao vivo. Houve um tempo, em que o programa primava pela excelência. Era honesto e inteligente. Hoje, um lixo completo, prestando um grande desserviço ao povo brasileiro. Revela, agora, a face medíocre e decadente de um antijornalismo lambe-botas, baba-ovos e, triunfalmente, babaca. Uma Roda Viva, moribunda e borra bosta. Vai, Brasil. – (27 de junho).




Estas imagens tornam-se umas das testemunhas mais recentes e contundentes de que nosso modelo civilizatório, não apenas nos conduziu a um dramático beco sem saídas, mas também a um escandaloso e sombrio fundo do poço. São retratos do triunfo da imoralidade suprema, da perversão absoluta e quem sabe, mais outro sinal do próprio fim dos tempos. Talvez, o bafejo da besta. – (20 de junho).













É mais sério do que se imagina. Se os fakenews já são uma lástima, sua produção em larguíssima escala, associada ao efeito potencializador das redes digitais, vem criando uma multidão de especialistas naquilo que não compreendem, imagens e conceitos totalmente distorcidos do mundo e da realidade, como se vivêssemos pendurados em nuvens, e uma legião de debatedores contumazes, que defendem, invariavelmente, a ida do nada ao lugar nenhum. Que mundo é esse? – (17 de junho).



Alguém sabe dizer por que a alegria do pobre, quando tem alguma, dura quase nada, e seu pão quando cai, vai ao chão, é sempre com o lado da manteiga virado para baixo? – (17 de junho).



O estrago causado pelo golpe no Brasil foi tão devastador que, além de condenar o país a uma condição quase colonial e o povo brasileiro a uma escravidão reciclada, sofisticada, matou, pasmem, até o espírito futebolístico das Copas do Mundo. Nem a ditadura militar, em seus tempos mais sombrios, foi tão longe. Não imaginei que fosse viver a ponto de ver coisa assim. Onde foram parar as camisas da seleção, as cornetas, bandeiras e chapéus verde-amarelo? Golpistas, paneleiros e coxinhas transformaram nosso espírito cívico, de torcedores entusiasmados e empedernidos, em uma gigantesca bola murcha. Que mico, ops, que pato. – (12 de junho).



Marcos Vinícius.