Não imaginava que fosse tão
difícil encontrar livros de Mario Benedetti nas livrarias de Belo Horizonte. E
que me perdoem os moderninhos conselheiros de plantão, mas, livros, ainda gosto
de adquiri-los é nas livrarias mesmo. Por mais prático que possa ser a compra
pela internet, é insubstituível aquele momento glorioso em que, finalmente,
aproximando-se das prateleiras, onde supostamente a obra procurada pudesse
estar e, lá está ela, a escolhida, entre milhares e milhares de títulos que
põe-se ao seu redor, à sua espera, prontinha para ser folheada, degustada.
Impressionante, como o autor latino-americano, uruguaio, é tão pouco conhecido
e tão difícil de ser encontrado aqui na cidade. Foi necessário percorrer quatro
grandes livrarias para, enfim, encontrar cinco títulos de um autor que já
publicou mais de oitenta. Portanto, aos sensibilizados com o problema e que,
por ventura, tenham alguma de suas obras, esquecida nas velhas prateleiras,
aceito de bom grado a oferta, como doação ou alguma possibilidade de troca ou
negócio. Também aconselho a leitura, pois é fascinante e surpreendente. O autor
é não apenas admirável, mas, como bem lembrou um crítico, o qual não me recordo
o nome, estabelece conosco fortes laços de cumplicidade, pois não é difícil
encontrarmos um pouco de cada um de nós, no interior de suas histórias. Apesar
de ter lido dois livros apenas, já posso afirmar que, trata-se de uma obra
humanamente vibrante. Viva Mario Benedetti. - (06 de março)
Os céus, provavelmente, sem graça
com o aguaceiro que despejam sobre nós, com todas as suas calamidades,
resolvem, em contrapartida, nos fazer um agrado. Nossos horizontes talvez já
nem sejam mais tão belos como um dia foram, mas, arco-íris, ah, estes temos aos
montes. Mais um fim de tarde arcoirizado em Beagá. - (05 de março)
Ei Folha de São Paulo, olá mídia
golpista! Agora que o Temer censurou, com o Exército nas ruas, o vampirão da
Tuiuti e a exibição das alas dos patos, manifestoches e das carteiras de
trabalho, intervindo e proibindo até as alegorias da nossa festa maior, o
Carnaval, já podem denominá-lo ditador Michel Temer, ou às estrelas do grande
capital e do neoliberalismo, independente de toda a arrogância, abusos e
autoritarismo, nunca cabe a denominação? – (18 de fevereiro)
Se estivéssemos em uma obra, do
que conhecemos como realismo mágico ou fantástico, poderíamos imaginar que um
estado de exceção, em uma república bananeira qualquer, fora implantado porque
se temeu que a revolta popular pudesse vir do carnaval. Ainda bem que, apesar
da agenda nacional ser pautada pela Rede Globo, vivemos em um país real e
distante do mundo da ficção. Ou não?
(16 de fevereiro)
Já faz alguns anos que assisti a
uma intrigante entrevista com Stephen Hawking. Nela, ele dizia que a ciência,
mais cedo ou mais tarde, nos conduziria à invenção da máquina do tempo. A
física havia descoberto que o tempo possui um corpo e, bastava que um dia,
fossem criadas as condições para que pudéssemos nos deslocar por ele, e aí sim,
poderíamos, finalmente, nos aventurarmos pelo passado. O problema é que,
segundo ele, apenas nos seria permitido retornar a um tempo em que o
equipamento, a parafernália, a máquina, seja lá o que for, já existisse. Então,
apenas aos homens do futuro, seriam possíveis as viagens mais longas. Se por um
lado, emocionei-me com a possibilidade, por outro, vi-me, também frustrado. Ali
se esgotava qualquer chance de que um dia, eu pudesse retornar à Pré-História. - ( 01 de fevereiro)
Agenda nacional. Em encontro
televisivo, em uma modalidade perversa de um "topa tudo por dinheiro", o homem do
baú se diverte com o homem das malas, para afirmar que o brasileiro viverá
cento e vinte anos e decretar, de vez, o fim das aposentadorias. O pacto da
canalhice em espetáculo, show businnes. Um show de deboche e negócios, entre as
grandes ratazanas. A bordo de uma lancha, num paraíso terrestre qualquer,
cercada de quatro bombadões, peladões, em vídeo proto-pornô, a indicada para a
pasta, que se desministerializou, a do Trabalho, faz um pronunciamento
sadomasoquista à nação. Uma esculhambação total, mas é o retrato fiel do Brasil
que nos tornamos.
( 31 de janeiro)
O pobre coitado sempre fora
afeito aos vícios e fanatismos de toda ordem. Já fez uso frequente de quase todas
as drogas, as conhecidas e as desconhecidas, já decorou cartilhas dos mais
variados credos, até dos não catalogados e dos inimagináveis. Recentemente,
resolveu libertar-se, adquirir autonomia, personalidade e pensamento próprios.
O destino o levou a um curandeiro misterioso, que garantiu que se seguisse a
receita que iria lhe prescrever, estaria não apenas livre de todos os cacoetes,
como se tornaria um quase intelectual, um pensador nato, capaz não apenas de
compreender os meandros e a complexidade do universo, como transformar-se em um
grande conselheiro, alguém a ser sempre consultado, além de apropriar-se das
mais diversas áreas do conhecimento e de valiosas sabedorias. O velho
curandeiro passou, então, a receita, que ele, de pronto, providenciou e tragou
em doses cavalares. Foi sugerido então, que colocasse água para ferver e, em
seguida, acrescentasse, penas de aves de mau agouro, no mínimo, dois bicos de
tucanos, fios de gravata de vampiro, dos grandes, um caldo de páginas das
revistas Veja, Época e afins ou de grandes jornais de circulação nacional, como
O Globo, o Estadão e a Folha de São Paulo, mais umas pitadas de um pozinho
branco, encontrado em helicópteros de políticos mineiros; este, foi o único
ingrediente que não foi acrescentado à mistura, não apenas por recusar-se agora
às drogas ilícitas, mas, principalmente, devido à impossibilidade de
adquiri-lo. Feito isto, deveria ainda, assistir aproximadamente quinhentas
horas da programação dos canais abertos de televisão, visitar por sete vezes a Morolândia,
decorar quarenta e cinco páginas do novíssimo dicionário português-coxinhol e
copiar quinhentas vezes a palavra CIA, sem trocar em momento algum, o C pelo S
e, posteriormente, guardar as páginas caligrafradas, em local secretíssimo, bem
distante do domínio público. E assim ele fez. Orgulhoso e sentindo-se curado,
fez sua primeira publicação no Facebook. O título era nobre. Pensamentos do
Dia. Enumerou-os na seguinte ordem. Pensamento número um, Em terra de LULA,
quem tem um olho é LULA. Pensamento número dois, LULA o que eu digo, mas não
LULA o que eu faço. Pensamento número três, O LULA perguntou ao LULA, qual LULA
era mais LULA. O LULA respondeu para o LULA, que o LULA mais LULA, era o
LULA-LULA. Para fechar o post, vaidosamente, acrescentou, Água LULA em pedra
LULA, tanto bate até que LULA. Até agora há pouco, já havia curtidas e
compartilhamentos, o que deixara o pobre coitado feliz e cheio de entusiasmos.
Com quantos LULA se faz uma canoa?
(22 de janeiro de 2018)