terça-feira, 17 de março de 2009

Descoberta da feiúra


Descoberta da feiúra


No fundo, no fundo, nunca pensei que pudessem ser feias as mulheres. Pelos motivos óbvios que já todos conhecem. Desde o início dos tempos, sejam os nossos, sejam os do mundo, a imagem feminina sempre esteve associada ao mito da beleza, da criação da espécie, a fonte primordial da vida. Seja pelos mitos, seja pelo prazer que podem proporcionar, as mulheres sempre inspiraram as mais belas canções, os mais admirados retratos, e os mais líricos dos poemas. Tem sido assim. A presença feminina esteve sempre associada a algum tipo de encantamento, é o que se ouve sempre, nas mais variadas línguas, nos mais diferentes tempos ou lugares.

Os homens muitas vezes, pretendem lhes roubar o que se tornou de direito. Ao estudarmos, por exemplo, a evolução humana, embalarmos o berço da espécie, encontraremos nomes que parecem querer deixar de lado, elas. Homo erectus, Homem de Neandertal, Homem de Cro – magno, Homo habilis, sapiens, e por aí afora, como se fosse a grande forra, como se a história humana só de homens tratasse. Onde a própria espécie, tornou-se, subjetivamente masculina, ao ser denomina de humanidade -, e não outro nome qualquer que lembrasse mais a elas que a nós. As palavras são poderosas, e não conseguimos dimensionar a força que podem adquirir ao longo do tempo, principalmente quando eternamente repetidas. Mas como algumas naturalidades, não têm como serem encobertas, a beleza mágica que trazem as mulheres ao longo do tempo, acabam por se afirmar no inconsciente coletivo, seja através das evidências religiosas, científicas, ou por uma paixão avassaladora qualquer que pode se revelar ao se cruzar uma esquina.

Um dos nomes divinos que sempre me trouxe encantamento foi Paccha Mamma, Mãe Terra, deusa da América pré-colombiana, que encarna o ideal feminino como força criadora. Osíris, no Antigo Egito, não atingiria a eternidade, ou até mesmo a fartura anual das colheitas, não fosse pelas mãos mágicas de sua esposa-irmã Ísis. A sombra da beleza das deusas antigas, e praticamente mortas, permanece vivíssima em nossas elucubrações poéticas, em nosso imaginário. Não ouvi quem dissesse que Eva fosse feia, e nem acredito que Adão, fosse de fato, definitivamente, resistir aos seus encantos. Assim é. Ademais, apesar de todas as grandes descobertas científicas, dos inúmeros fósseis que foram encontrados ao longo dos séculos, são ainda, as ancestrais femininas, as mais populares e representativas das origens da nossa espécie. Seja Lucy, a fêmea australopitecínea, considerada a grande mãe de todos nós, africana, seja Luzia, uma das mais antigas representantes humanas, cá das Américas. Talvez os homens se enganem ao acreditarem que Deus, fez a nós, sua imagem e semelhança. Acredito mesmo, que muitos impérios, tenham sido conquistados, territórios anexados, exércitos inteiros destroçados, para que o rei poderoso pudesse tornar-se, no máximo, atraente, aos olhos da amada. Talvez possa o desejo ter sido o grande motor da história.

Dados estes e tantos motivos é que nunca acreditei que pudesse achar feias as mulheres, claro está que algumas podem ser mais belas e atraentes, em função de todo tipo de sortes que pela vida se vai encontrar, mas feias, de todo feias, nunca acreditei que pudessem, no fundo, no fundo, serem. Seja pelos atributos naturais, seja pelo imaginário milenar, que levamos guardados em nós, são fundamentalmente, belas. Recentemente, porém, descobri, uma fórmula perversa, pela qual pode deixar uma mulher, e assim ainda podemos dizer, completamente desprovida de qualquer beleza. Uma mistura heterogênea de vaidades pessoais, disputas por poder, cargos ou influência, que fazem com que toda a beleza historicamente construída, torne-se um grande borrão, como imaginava, que apenas aos homens pudesse ocorrer. Ledo engano. Um sistema complexo, envolvendo intrigas, trapaças, difamações, inescrupulosidades, faz com que uma feiúra pálida, amorfa, exale do ventre de rugas precoces, tristemente femininas. Descobri, então, o quanto pode ser feia uma mulher.



Marcos Vinícius.

Um comentário:

Moisés Augusto Gonçalves disse...

Passei por aqui para "ouvir" as histórias e versos...