Observando
ontem (29/08/16) o desenrolar da sabatina a que se submeteu a presidenta Dilma
no plenário do Senado Federal, constatei mais uma vez, o que já
havia visto quando da aprovação da abertura do processo de
impeachment na Câmara dos Deputados, e em vários outros lugares e
ocasiões onde se discute o destino do seu mandato. Os senadores, ao
se dirigirem à presidenta, que respondeu a todos os seus
inquisidores, das nove horas da manhã até quase a meia noite, com
uma firmeza e lucidez surpreendentes, aparentemente, posicionavam-se
em um local privilegiado, proeminente, como se investidos de uma aura
de autoridade e moralidade inquebrantável e única. Os discursos
eram fortes, duros, ríspidos, condenatórios, raivosos e
intolerantes. De onde, velhos senhores da política, mesmo os novos
são também velhos, não apenas pelas práticas políticas que
adotam, mas pelos interesses que representam, as velhas oligarquias
escravocratas de sempre, retiram tamanha envergadura moral? De onde,
os velhos barões dos cartéis, testas de ferros das multinacionais,
capitães do mato de terno e gravata, politiqueiros profissionais,
lobistas, entreguistas de plantão, usurpadores do povo, retiram a
empáfia e a propriedade do discurso da ética? De onde falam estes
senhores nervosos e obcecados? Sabem todos, o quanto tem seus rabos
presos, as mãos sujas das negociatas e falcatruas, dos rombos, dos
desvios, conspirações e conluios. Falam de uma tribuna supostamente
superior, não o móvel de madeira, onde se posicionam no plenário,
em frente a mesa diretora e a ré, mas do palanque confortável da
condição de homens, brancos, ricos e poderosos. Os mesmos homens
brancos, ricos e poderosos de sempre. Os mesmos, que perpassam os
séculos, em uma linha contínua, que não se rompe ou quebra;
podemos ver em seus olhos e mãos ainda, os vultos das chibatas e
correntes, as sombras nítidas das liteiras e dos pelourinhos. A
abordagem, o tom e a coreografia, dos inquisidores à presidenta,
além do processo de impeachment em si, são outros legados à
história, não apenas como os adereços de um golpe, mas como
símbolo indestrutível de um machismo revigorado. Impossível não
imaginar como agiriam os mesmos golpistas, se à sua frente, o
julgado fosse um homem, nascido em berço de ouro, dono de impérios,
acionista das mineradoras, bajulador das potências estrangeiras,
magnata das telecomunicações, ou um general presidente. Certamente,
sequer falariam em impeachment. Estariam, certamente, os mais
arrogantes e prepotentes, de cabeça baixa, mergulhados na mesma
subserviência e complacência de sempre, sem qualquer exceção ou
constrangimento. O golpe deu a estes senhores, fascistas, a
oportunidade da manifestação explícita de um machismo
institucional e espetacularizado, além de demonstrar, sem deixar
sombras de dúvidas, o quanto um golpista é antes de tudo, um
covarde.
Marcos Vinícius.