sábado, 17 de setembro de 2016

O cerco de 29 de Agosto



Observando ontem (29/08/16) o desenrolar da sabatina a que se submeteu a presidenta Dilma no plenário do Senado Federal, constatei mais uma vez, o que já havia visto quando da aprovação da abertura do processo de impeachment na Câmara dos Deputados, e em vários outros lugares e ocasiões onde se discute o destino do seu mandato. Os senadores, ao se dirigirem à presidenta, que respondeu a todos os seus inquisidores, das nove horas da manhã até quase a meia noite, com uma firmeza e lucidez surpreendentes, aparentemente, posicionavam-se em um local privilegiado, proeminente, como se investidos de uma aura de autoridade e moralidade inquebrantável e única. Os discursos eram fortes, duros, ríspidos, condenatórios, raivosos e intolerantes. De onde, velhos senhores da política, mesmo os novos são também velhos, não apenas pelas práticas políticas que adotam, mas pelos interesses que representam, as velhas oligarquias escravocratas de sempre, retiram tamanha envergadura moral? De onde, os velhos barões dos cartéis, testas de ferros das multinacionais, capitães do mato de terno e gravata, politiqueiros profissionais, lobistas, entreguistas de plantão, usurpadores do povo, retiram a empáfia e a propriedade do discurso da ética? De onde falam estes senhores nervosos e obcecados? Sabem todos, o quanto tem seus rabos presos, as mãos sujas das negociatas e falcatruas, dos rombos, dos desvios, conspirações e conluios. Falam de uma tribuna supostamente superior, não o móvel de madeira, onde se posicionam no plenário, em frente a mesa diretora e a ré, mas do palanque confortável da condição de homens, brancos, ricos e poderosos. Os mesmos homens brancos, ricos e poderosos de sempre. Os mesmos, que perpassam os séculos, em uma linha contínua, que não se rompe ou quebra; podemos ver em seus olhos e mãos ainda, os vultos das chibatas e correntes, as sombras nítidas das liteiras e dos pelourinhos. A abordagem, o tom e a coreografia, dos inquisidores à presidenta, além do processo de impeachment em si, são outros legados à história, não apenas como os adereços de um golpe, mas como símbolo indestrutível de um machismo revigorado. Impossível não imaginar como agiriam os mesmos golpistas, se à sua frente, o julgado fosse um homem, nascido em berço de ouro, dono de impérios, acionista das mineradoras, bajulador das potências estrangeiras, magnata das telecomunicações, ou um general presidente. Certamente, sequer falariam em impeachment. Estariam, certamente, os mais arrogantes e prepotentes, de cabeça baixa, mergulhados na mesma subserviência e complacência de sempre, sem qualquer exceção ou constrangimento. O golpe deu a estes senhores, fascistas, a oportunidade da manifestação explícita de um machismo institucional e espetacularizado, além de demonstrar, sem deixar sombras de dúvidas, o quanto um golpista é antes de tudo, um covarde.

Marcos Vinícius.