quinta-feira, 14 de maio de 2015

Os refugiados do sul da Ásia e o sadismo requintado.



Cerca de 300 imigrantes, entre homens, mulheres e crianças, pedem socorro no Mar de Andaman, a poucos quilômetros da costa da Tailândia, no sul da Ásia, em um barco à deriva, cujo resgate acaba de ser negado pelas autoridades tailandesas. “Negamos a eles a entrada no país, mas lhe demos alimento e água em respeito a nossa obrigação em relação aos direitos humanos”, diz Puttichat Aknachan, general da polícia regional. Seus tripulantes, provenientes de Mianmar, foram abandonados pelos que deveriam conduzi-los clandestinamente até a Malásia, onde sua entrada também não é permitida. A Malásia também tem devolvido os refugiados ao mar. Ainda hoje, dois barcos foram enxotados do país com mais de 600 tripulantes. “Nós não deixaremos nenhum barco estrangeiro entrar no país. A não ser que o barco esteja naufragando ou sem condições de navegar, nossa Marinha dará provisões e depois mandará os imigrantes embora” afirmou o primeiro almirante da Marinha malasiana Tan Kok Kwee. A situação destes homens, mulheres e crianças é de penúria total e devolvê-los ao mar é condená-los à morte. Há dois meses estão no mar e aproximadamente 100 deles morreram durante a viagem. Estão famintos, doentes, as mães estão em prantos, e as crianças, em desespero e amedrontadas, pedem ajuda. Não terão. O poder, seja lá onde for, aqui entre nós, ou do outro lado do mundo, raramente faz-se generoso e costuma exercer-se perverso e sádico. Os semi-náurfragos de hoje são vítimas de um mundo globalizado, onde o dinheiro, o capital, possuem liberdade absoluta para transitarem por onde lhes for mais conveniente ou lucrativo e as fronteiras nacionais há muito deixaram de existir, mas as gentes, os homens de carne e osso, estão condenados a cercas, muralhas e obstáculos de toda natureza, que os impedem de uma vida minimamente digna, onde quer que seja. Calcula-se que aproximadamente outras oito mil almas estão também à deriva na Bacia de Bengala, nas proximidades de Bangladesh e Mianmar, de onde provém, sem a menor perspectiva de resgate ou socorro humanitário. Muitos deles são Rohingyas, segundo as Nações Unidas, um dos povos mais perseguidos do mundo, uma minoria “sem amigos e sem terra”. A maioria deles vive em Mianmar, antiga Birmânia, onde são considerados apátridas, não tem direito à cidadania, são proibidos de se casar ou viajar sem permissão das autoridades, não tem o direito de possuir terras ou propriedades e são vítimas eternas de ataques violentos de extremistas que exigem que deixem o país. A bandeira dos extremistas, próximos aos centros de comando, é a deportação em massa. Em 2012, duas ondas de violência se abateram sobre estes miseráveis, deixando um saldo de cento e quarenta mortos e mais de cem mil desabrigados. Bangladesh, oitava maior população do mundo, tem a maioria de sua população vivendo na pobreza extrema, onde mais de 52% do povo, não sabem ler ou escrever. Segundo especialistas, a região é uma das mais vulneráveis do planeta às mudanças climáticas e estudos recentes apontam que estas vem afetando de forma dramática a vida humana, com prejuízos na agricultura, redução dos níveis de água potável, com altíssimo grau de contaminação por arsênico, redução da segurança alimentar e das possibilidades de abrigo. Estudiosos têm chamado estes novos migrantes, de refugiados climáticos. Provenientes de uma terra que não lhes cabe, navegando à deriva, apinhados em embarcações rústicas e clandestinas, famintos e doentes, mulheres e crianças, sem um porto possível, são o retrato atualizado de uma humanidade que, apesar de todo o desenvolvimento técnico e científico, não deu conta de suas contradições mais elementares. Uma humanidade, que já há tempos, tornou-se descartável, uma civilização repleta de becos sem saída, uma ciência, cada vez mais subserviente ao mundo dos negócios, e o poder, este sim, detentor de um sadismo, cada dia mais requintado.

Marcos Vinícius.