Isto mesmo, vamos todos fechar as
torneiras, aterrar as praças, os jardins públicos, afinal, as plantas e flores
consomem água em abundância, e sob hipótese alguma, podemos desperdiçá-la.
Talvez devamos também, não apenas devido à escassez, mas por espírito cívico,
lavarmos nossas roupas, sem antes usá-las, por um período mínimo de uma semana,
reduzirmos não apenas o desperdício, mas, inclusive, necessidades básicas,
lavarmos o piso da cozinha e do banheiro, apenas depois que o lodo comece a nos
ameaçar com escorregões e quedas, e até mesmo eliminarmos este vício selvagem,
que herdamos dos índios, de tomarmos banhos diariamente. Lavar calçadas,
refrescar-se sob o chuveiro nos dias de calor intenso, são sacrilégios, que
apenas os mais irresponsáveis, deverão cometer. Afinal, se já produzimos tanto
lixo, nada mal que convivamos com ele. Talvez seja o momento, que nossa
espécie, sempre tão resistente em compreender nossa natureza simiesca, tenha
que enfim, defrontar-se com sua condição suína. Não é de todo o mal, que nossa
civilização, já habituada ao fedor industrial, seja toda ela, uma grande
pocilga humana, onde turbas de fedorentos, aprendam umas com as outras, a
tratar de suas caracas e cascões. Quanto
ao esgoto atirado sobre nossos rios pelas indústrias e corporações, com seus
dejetos químicos, tóxicos e à ação avassaladora das mineradoras contaminando
fontes e nascentes, dinamitando cachoeiras e mananciais, não há qualquer
problema, afinal, são a base econômica do nosso mundo contemporâneo. Nosso modelo
de desenvolvimento fundamenta-se no espectro da devastação. Não há problema, e
nem há necessidade de se falar nisto. Nossa natureza econômica faz-se com o fim
de nossos recursos naturais. Não há problema que as mineradoras transformem
nossos territórios em cenários de fim de mundo, dinamitem, explodam, matem,
transformem paraísos naturais em crateras e desertos, a exportação do minério
não pode ser interrompida. Não há sequer, que se lembrar disto. Não há que
tocar no assunto, afinal quem possui mais forças que o mercado? A propósito, em
um futuro não muito distante, deveremos também, eliminarmos não apenas qualquer
noção de assepsia, mas reduzirmos o tempo do nosso sono, pois com as crises
constantes do sistema, e com a economia, sempre ameaçadora, talvez fosse mais
apropriado, que dormíssemos noite sim, noite não, ampliando nosso período de
vigília, aumentando as jornadas de trabalho, para que a indústria, o capital,
estes sim, possam sempre prosperar. Talvez a etapa mais recente da acumulação
capitalista, que agora se processa e constitui, nos atire, a todos, em um mundo
de porcos e zumbis.