quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

A crise hídrica e a Idade dos porcos.





Isto mesmo, vamos todos fechar as torneiras, aterrar as praças, os jardins públicos, afinal, as plantas e flores consomem água em abundância, e sob hipótese alguma, podemos desperdiçá-la. Talvez devamos também, não apenas devido à escassez, mas por espírito cívico, lavarmos nossas roupas, sem antes usá-las, por um período mínimo de uma semana, reduzirmos não apenas o desperdício, mas, inclusive, necessidades básicas, lavarmos o piso da cozinha e do banheiro, apenas depois que o lodo comece a nos ameaçar com escorregões e quedas, e até mesmo eliminarmos este vício selvagem, que herdamos dos índios, de tomarmos banhos diariamente. Lavar calçadas, refrescar-se sob o chuveiro nos dias de calor intenso, são sacrilégios, que apenas os mais irresponsáveis, deverão cometer. Afinal, se já produzimos tanto lixo, nada mal que convivamos com ele. Talvez seja o momento, que nossa espécie, sempre tão resistente em compreender nossa natureza simiesca, tenha que enfim, defrontar-se com sua condição suína. Não é de todo o mal, que nossa civilização, já habituada ao fedor industrial, seja toda ela, uma grande pocilga humana, onde turbas de fedorentos, aprendam umas com as outras, a tratar de suas caracas e cascões.  Quanto ao esgoto atirado sobre nossos rios pelas indústrias e corporações, com seus dejetos químicos, tóxicos e à ação avassaladora das mineradoras contaminando fontes e nascentes, dinamitando cachoeiras e mananciais, não há qualquer problema, afinal, são a base econômica do nosso mundo contemporâneo. Nosso modelo de desenvolvimento fundamenta-se no espectro da devastação. Não há problema, e nem há necessidade de se falar nisto. Nossa natureza econômica faz-se com o fim de nossos recursos naturais. Não há problema que as mineradoras transformem nossos territórios em cenários de fim de mundo, dinamitem, explodam, matem, transformem paraísos naturais em crateras e desertos, a exportação do minério não pode ser interrompida. Não há sequer, que se lembrar disto. Não há que tocar no assunto, afinal quem possui mais forças que o mercado? A propósito, em um futuro não muito distante, deveremos também, eliminarmos não apenas qualquer noção de assepsia, mas reduzirmos o tempo do nosso sono, pois com as crises constantes do sistema, e com a economia, sempre ameaçadora, talvez fosse mais apropriado, que dormíssemos noite sim, noite não, ampliando nosso período de vigília, aumentando as jornadas de trabalho, para que a indústria, o capital, estes sim, possam sempre prosperar. Talvez a etapa mais recente da acumulação capitalista, que agora se processa e constitui, nos atire, a todos, em um mundo de porcos e zumbis.


Marcos Vinícius.